terça-feira, 7 de outubro de 2008

DOIS PREFEITOS PARA SÃO PAULO


Por Luiz Carlos Azenha

"Eu conversava com um amigo sobre o texto do Mauro Carrara que reproduzi na capa do site. Durante a conversa constatamos o óbvio: São Paulo é uma cidade conservadora. Sempre foi. É a terra que elegeu Jânio Quadros e Paulo Maluf, que por sua vez elegeu Celso Pitta.

Notamos que Marta Suplicy foi votar de roupa bege mas, à noite, diante da derrota, já estava vestindo vermelho. Quando o PT perde tira o vermelho do armário?

Nós nos lembramos da campanha de 1984, em que Jânio Quadros derrotou Fernando Henrique Cardoso com um discurso do tempo das cavernas.

Eu acompanhei de perto aquela eleição, como repórter da TV Manchete em São Paulo. O Jânio estava certo de que a TV Globo fazia campanha contra ele e dava prioridade à Manchete nas entrevistas. Eu ia com frequência à casa do candidato entrevistá-lo. Jânio se comportava mais como um inspetor de quarteirão do que como candidato a governar a maior cidade da América Latina. Cuidou de enfatizar a diferença entre FHC, o "moderno", e ele, Jânio, que ainda falava em usar a vassoura para varrer a corrupção.

Apelou ao instinto mais conservador do paulistano, que em minha opinião não existe. Paulistano é apenas uma designação para definir quem nasce na capital do estado de São Paulo. Quem vem para São Paulo e é confrontado pela metrópole que não pára de mudar busca refúgio em suas tradições de origem. Quem mora em São Paulo quer símbolos de familiaridade por perto: Silvio Santos, Jânio Quadros, o dono da banca de jornais e da padaria. A vida é tão precária nesta cidade que "mudança" não tem apelo eleitoral.

Assim sendo, Marta Suplicy é uma aberração no cenário paulistano. Ela rompe com o instinto mais íntimo de milhões de eleitores: a mulher que sabe o que quer, que corre atrás do que quer, que não tem medo, que não precisa de proteção, que troca de marido para ser feliz. A votação de Marta na periferia de São Paulo é extraordinária. Por mim elegeríamos dois prefeitos: um para cuidar da classe média e outro para a periferia. Na ausência de um político que consiga fazer a ponte entre estes dois mundos continuaremos em São Paulo a ter essa fratura exposta a cada quatro anos."


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