quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A REPÚBLICA DAS BANANAS

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Era inevitável e portanto, aconteceu o esperado. Após um pequeno delírio de imaginarmos ir para o Primeiro Mundo, onde as coisas funcionam e você é respeitado como cidadão, e enquanto país no cenário mundial, voltamos ao lugar de onde em verdade, nunca saímos.

O Brasil está voltando a passos largos, a ser a boa e velha República de Bananas que sempre foi. Aquele lugarzinho tão conhecido na América Latina, onde quem tem poder, faz o que quer. Derruba e elege presidentes, rouba descaradamente, achaca, ameaça e especialmente, vende tudo. Tudo é colocado à venda a preços módicos aos ricaços de fora. Melhor ainda se forem os ricaços do Tio Sam.

A culpa neste caso, não é do pobre que vive do Bolsa Família, como pensa a maioria de nossa classe-média. Não. O pobre mal tem o que comer, quem dirá ter poder de influenciar alguma coisa em algum lugar. A culpa é dela mesma, a classe-média desinformada, que insiste em acreditar que todo o mal do mundo provém dos pobres e dos 80 reais que eles ganham por mês pra não morrerem de fome.

Não analisam, porque não querem, que o que sangra um país são as universidades públicas frequentadas por endinheirados que poderiam pagar uma particular. São os empregos públicos bem remunerados, ocupados por quem tem grana pra pagar um curso preparatório ou mesmo, por quem tem influência pra obter para sí, uma vaga arranjada, sempre em busca da tal "estabilidade".

O pobre não consegue nem um, nem outro. Esse pobre que no mínimo precisa de educação pra poder alterar nossa força de trabalho, que é mundialmente reconhecida como despreparada e ignorante, portanto, pouco produtiva. O pobre que precisa ser capacitado pra trabalhar nas empresas e gerar lucro pro patrão e renda para toda a sociedade não consegue acesso justamente à educação que faria todo mundo ganhar mais dinheiro. E quem impede? O próprio patrão que seria o primeiro a ganhar. Mas afinal, como sabemos, no Brasil pobre só merece ter dois dentes. Um pra doer, outro pra abrir garrafa. Quantas vezes você já ouviu essa frase?

O que sangra o país são as mamatas da sonegação bilionária que vemos todos os anos, que sequer são lembradas pela imprensa, especialmente porque ela mesma está entre os maiores sonegadores. O que sangra o país são políticos pilantras, que preferem atear fogo ao país, do que abrir mão do interesse próprio, mesquinho e perturbador.

O que sangra o país é não termos espírito de pátria. É concordarmos alegremente em sermos estuprados por forças alienígenas, que nada mais querem do que nossas vestes pra usar como tapete, usado na entrada de suas garagens em dias de chuva.

O que sangra um país é a indignação seletiva. É ver um imbecil nas redes sociais justificando porque o corrupto que ele apoia, é melhor do que o corrupto que o outro apoia. E curioso, normalmente esse tal imbecil sequer leva uma fatia do roubo que seu político preferido está promovendo. É a vassalagem gratuita mais incompreensível do universo.

Roubar é feio, mas deixar que outros te roubem, sem dó nem piedade, e ainda exaltá-los como se fossem salvadores da pátria, é de dar medo. É burrice atroz.

E esta burrice, como já dito, não vem do pobre miserável. Esse, pode até se vender, mas é por necessidade primária. Se vende por comida. A classe-média se vende por polos da Tommy Hilfiger compradas em Miami em shoppings desqualificados.

Vamos lembrar daquela colunista "chique" de um certo jornal carioca, que falava que isso era brega, que aquilo era sofisticado. Que detonava os pobres porque eram um bando de jacús e que um dia, se deu a falar em sua coluna que não tinha mais graça ir pra Paris porque o porteiro de seu prédio agora também podia ir. Mal sabia ela que em Paris também há diversos pobres e todos eles são franceses. Alguns até são porteiros de prédio. E em Paris também há jornalistas mal remunerados, que sonham em algum dia, serem algo que nunca serão.

Aí a respeitável senhora perdeu o emprego e foi bater na porta da Justiça do Trabalho. Aquela mesma justiça que ela defenestrou, porque dava direitos a quem? Aos porteiros que ela odeia, às empregadas domésticas que ela gostava de ter, mas não queria pagar. E pior, esta senhora pediu a Assistência Judiciária Gratuita, que é o expediente concedido pela lei, a quem não tem grana pra pagar as custas judiciais.

E aquela moça que um dia postou no Facebook que voar tinha perdido o glamour, já que havia pobres, negros e gente mal vestida no avião.

E aquele outro jornalista, dito economista, que nunca leu O Capital (nem que fosse só pra saber do que se trata), que trabalhava numa famosa revista brasileira, de números de circulação e vendagem falsificados, e que ergueu um cartaz numa manifestação pública, dizendo que preferia limpar privada nos Estados Unidos, que ser governado pelo PT.

Onde está ele neste exato momento? Onde sempre quis, fazendo o que preferia. Existe certa poesia no mundo que nem sempre vemos de imediato.

Na União Soviética na Guerra Fria, foi inventado um termo bem bacana, que espelha exatamente o que essa gente é. O "idiota útil". Aquele bobalhão desinformado, que acredita em tudo o que certas pessoas mandam ele acreditar, e pensam, ilusoriamente, que um dia conseguirão um espaço no seleto grupo dos abonados.

E antes que pensem que esse artigo é uma ode ao comunismo, note que o "idiota útil" dito pelo governo, era direcionado aos próprios cidadãos soviéticos, que amestrados que eram, não viam o que seus mandatários faziam em verdade.

Evidentemente seu equivalente ocidental existia e existe em larga escala. Ninguém produziu tantos idiotas úteis como a América.

Não, amigo ingênuo. Você não conseguirá fazer parte deste grupo de abonados, porque ele não aceita novos sócios. Especialmente os que não são originalmente daquela classe social. Os "emergentes" não são considerados nobres, nem nunca serão. O seleto grupo apenas aceita serviçais, remunerados de acordo com a serventia.

O que nos tem levado rapidamente de volta à bananice das repúblicas, é nossa falta de amor próprio. É optar livremente por sermos empregados mal remunerados do capital especulativo que somente nos dá migalhas em troca da servidão da alma.

E sim, nossa classe-média é servil até a alma. 

Se isso nos traz algum consolo, vale a constatação de que toda a América Latina está voltando a ser república de bananas. Ora, foram ingênuos os presidentes que imaginaram que o poder financeiro internacional concordaria sem maiores consequências, em perder o seu lugar no olimpo dos privilégios. Só a China conseguiu isso sem ser incomodada. E não porque esqueceram dela e sim, porque antes de tudo, ela construiu um governo poderoso e inflexível. Depois, construiu a bomba atômica. Depois, reverteu a ordem financeira internacional com produtos baratos, produção massiva e fantásticas reservas financeiras e aquisições de bônus de todos os governos ditos centrais. Ou seja, Os EUA e a Europa estão no bolso da China e não há nada que possa ser feito.

E não se engane você ao achar que a China tem poder porque é grande e populosa. A Índia também é, e nunca passou de uma república de bananas da Ásia.

Mas é chato que isso esteja acontecendo. Foi bom o delírio momentâneo de sermos respeitados enquanto país.

Ao contrário, voltamos rapidinho a sermos mandados por gente estúpida muito possivelmente pior do que os estúpidos que foram eleitos por nós mesmos nos últimos pleitos.

Mas como já cansei de dizer, o brasileiro tem demonstrado que não merece nada a mais do que isso. Se não sabemos sequer valorizar a democracia e as leis, como podemos pensar que algo maior estaria disponível?

Welcome Woody Allen. Venha refilmar seu "Bananas" de 1971 em nossas terras de 2015. Material humano você terá em abundância. Especialmente na classe que se acha sabichona.

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segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A LÁSTIMA DE SER BRASILEIRO EM 2015

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Muitas coisas faltam ao Brasil e ao brasileiro.

A mais gritante, de longe, é a coerência. 

Quem conhece esse blog há tempos, percebeu que hoje eu raramente escrevo. E isso se dá por um motivo bem simples. É inútil tentar argumentar, num país onde a visão binária das coisas tomou conta. Não há mais argumentos, não há mais discussões que levem a algum lugar.

Apenas gritos raivosos e rótulos.

Desde a vitória de Lula em 2002, eu apoiei o governo. Não porque era cego, ou porque era "petista". Apoiei porque ví que alí poderia haver alguma mudança no país. Mudança esta, que de fato houve. 

Só quem viveu os períodos governados por FHC e os que vieram antes dele, é que lembram do Brasil como era. Porém, impossível ignorar que as viúvas de Don Fernando, tanto quanto as viúvas do caos, se interessam mesmo, pelo país jogado na sarjeta. Assim dá mais dinheiro pra eles.

Hoje ví um cidadão mencionando na internet, que nossa oposição não poderia ser tão irresponsável ao ponto de aprovar as pautas bomba e a entrega do pré-sal. Infelizmente, ingenuidade deste brasileiro, que não deve ter se tocado que pouco se lixa a maioria dos parlamentares para o que é bom ou não para o país.

E daí o que nos sobraria? Um povo altivo. Que percebesse que o governo federal tem lá seus problemas imensos de corrupção, mas que no fundo, na prática ainda é melhor que a lavanderia institucionalizada do PSDB.

E notem, isso não significa perdoar os petistas corruptos. Tem que mandar pra cadeia. Mas também não é possível tolerar a volta da tucanada bandida, apenas porque o PT rouba tanto quanto os outros. 

Ou seja, são coisas distintas e nada a ver tem uma coisa com outra. Cadeia para os bandidos. Tirados de circulação os corruptos, nada justifica entregar o país de bandeja.

Mas daí precisaríamos de uma população que no mínimo, sabe do que está falando, pra poder reclamar e exigir. Mas qual o quê?

Nosso povaréu está mais é interessado em gritar no Facebook, a favor do governo e especialmente CONTRA o governo, pouco se importando se morreremos todos afogados nessa irresponsabilidade.

E o que nós, os que minimamente temos alguma consciência, podemos fazer? Nada, pelo jeito.

Estamos num país de oportunistas.

Outro dia o rapaz da Dilma Bolada disse que estava largando os bets porque a presidente se "vendeu" para o PMDB. Ele que me perdoe, mas vendilhança, me pareceu mesmo a dele. Ou ele não conhece de política e de como ela é feita no Brasil?

O rapaz tem lá seus enroscos com esse tipo de política que criticou. Posso até estar errado mas aquela história de que o PSDB queria comprar-lhe o passe e ele não aceitou, me pareceu mentirinha. Ele falou que levou a conversa do "preço" até as últimas, apenas para ver até onde iam os tucanos. Sinceramente, não creio. Os caras o ganharam no preço e quando ele viu que estava na mão do inimigo, viu que estava exposto e poderia ser desmascarado caso eles não estivessem mesmo dispostos a pagar o valor pedido, e sim, apenas mostrar a todos como o apoio a Dilma era "vendido", resolveu botar a boca no trombone. De todo modo, a coisa ficou por isso mesmo pois ninguém mais dava muita bola pro personagem que ele havia criado.

E digo mais, como agora ele apareceu nas notícias chutando o balde da Dilma, daqui a pouco fará como Marta Suplicy. Vai dizer que não coaduna mais com "isso que está aí" e vai encontrar outro que lhe pague os 20 dinheiros, agora, para falar mal de quem antes apoiou por outros 20 dinheiros.

Mas como falei, posso estar errado. Nem conheço o menino. Vai que ele é honesto e minimamente ético? Vai que ele realmente não acredita mais na Dilma e quer apenas ficar em casa se arrependendo de tê-la apoiado? Vamos ver até onde ELE vai, agora.

O personagem que ele inventou apenas dá mostras de como funciona nosso povo, que reclama da corrupção, mas só quando o favorecido é o vizinho. Quando é ele mesmo, a roubalheira passa a não ter importância. 

Como que dá pra tentar arrazoar com gente assim?

Gente que se agarra num emprego público e taca fogo no circo porque eventualmente o governo não lhe deu aumento? Gente que suborna fiscais e reclama que o Estado é corrupto?

Tem que avisar estes cidadãos que dever impostos não é crime. Sonegar é, e subornar fiscais também. O devedor tem a chance de parcelar, de negociar, de fazer bastante coisa. Só que é mais fácil encontrar desculpas, que são muitas e boas, para não fazer o que é certo, e tentar lucrar com o que é errado.

O Brasil é sim, um país falido. Os grandes atores mundiais, que nos minaram com a ajuda dos vendilhões da pátria, conseguiram o que queriam. E nossa população se refestela com o lodo no qual afundamos todos. Felizes por estarem derrubando um governo corrupto, mas que minimamente defendia os interesses da nação, e colocando no poder outros bandidos, que não apenas roubam mas também, entregam o país a interesses externos, seja do petróleo, seja da energia.

Uma lástima é ser brasileiro neste estado de coisas. 

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