quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O CORTE DOS JUROS E OS SINDICATOS

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Com todo o respeito que tenho pelo portal Vermelho, e em verdade, este respeito não é pouco já que ele é minha página inicial há anos (ou seja, me informo primeiro por ele), me permito discordar do artigo publicado por André Cintra e veiculado nesta quarta-feira, dia do corte de um por cento na taxa de juros do Copom.

Assim lemos na manchete:

"As centrais sindicais consideram que “é pouco” o declínio em um ponto percentual da taxa básica de juros (Selic), anunciada pelo Copom (Comitê de Política Monetária), na noite desta quarta-feira (21). O que há para comemorar, segundo as centrais, é que a redução do índice — que foi de 13,75% para 12,75% — não reflete os interesses dos especuladores, mas, sim, a pressão da sociedade, especialmente do movimento sindical."

Convenhamos, o BC não cortou os juros por causa das mobilizações. Cortou para não pegar mal diante da crise. Para não ficar parecendo que todo mundo faz a sua parte e só Meirelles não faz nada. Cortou por pressão do Governo que não queria ficar mal na fotografia, não do povo.

Daí você pode dizer que no frigir dos ovos, é a pressão do povo, do mesmo jeito já que a política se pauta pelo que pensa o cidadão.

Ahã, quisera fosse....

Ora, talvez vá lá, tenha sido a pressão de toda uma coletividade, mas definitivamente não é por causa dos movimentos sindicais. Por acaso alguém imagina que o Banco Central dá alguma bola para o que dizem os sindicatos?

Novamente digo. Eu respeito o movimento sindical e toda a segmentação da esquerda porque também faço parte dela. Mas acho que pensar que este corte se deve às Centrais é muita ingenuidade, na minha opinião.

Analisemos de maneira fria. A taxa de juros não significa absolutamente nada para a crise. É pura falácia, especialmente se considerarmos que o Brasil sempre teve juros altos e notadamente até poucos meses, com as taxas de crescimento avolumadas, a Selic inchada impedia somente o aparecimento da inflação, mas não ocasionava o esfriamento da economia.

Os carros brasileiros, mesmo tendo em dólar um dos preços mais salgados do mundo, continuavam vendendo como água.

A Selic indexa contas do Governo, índices oficiais e algumas outras coisinhas mais. Mas o juro que você paga no banco nada tem a ver com esta taxa. Prova disso é lembrar que em 1999 no auge da insanidade de FHC, a taxa Selic estava em 39% ao ano, enquanto as taxas para cheque especial nos bancos de varejo ficavam em torno dos 11, 14 por cento ao mês.

Hoje com Selic em 12%, seu banco continua te esfolando em aproximadamente 10% ao mês. Cadê a proporção? Onde está a ligação de uma coisa e a outra?

Ela não existe.

Para o grande empresário, para as grandes montadoras e as grandes indústrias sem dúvida existe reflexo da taxa Selic na produção. Claro que sendo extremista, o juro alto desestimula a grande indústria porque ela produz quantidades gigantescas. E verdade seja dita, esse contratempo, o juro alto, foi uma das poucas coisas que impediu os reajustes frequentes dos preços pelos setores mais famigerados. Tente recordar da lei mais básica do capitalismo, excesso de procura gera aumento de preços.

E sobre os eternos "pitís" que os industriais têm na mídia pedindo juros baixos, digo sem nenhum medo de errar. Quem imagina que a indústria irá contratar mais ou no mínimo manter os empregos por causa dessa queda de 1 por cento, está delirando.

Nem que o governo cortasse 3%, nem que levasse a taxa para 8% o distinto Paulo Skaf, com seus amigos, garantiriam o emprego do populacho. A "crise" é a melhor desculpa para botar o excedente no olho da rua. E eles não vão perder esta oportunidade.

Espere e verá.

Eles querem juros baixos e possibilidades ilimitadas de reajustar preços e mandar gente embora. Tem muita gente grande torcendo para a volta da inflação.

Na outra ponta, continuando com o raciocínio dos juros, quantos micro-empresários, ou mesmo aqueles informais, que sobrevivem da venda do cachorro quente, da roupinha manufaturada, do bordado, o camelô; quantos desses você acha que serão beneficiados pela queda de 1% na Selic?

O banco onde este cidadão tem conta (quando tem) e ao qual eventualmente vai pedir um empréstimo, nao vai diminuir as taxas. E isso inclui o fabuloso Banco do Brasil, que deveria encampar a luta pelo crescimento e pela queda dos juros oferecendo empréstimos para o estímulo ao consumo e à produção, a taxas convidativas. Mas não oferece. Ele faz igual ou praticamente igual aos outros.

Exceção feita ao Banco Popular do Brasil, braço do BB que realmente cumpre este papel.

Mas como sabemos, o Banco do Brasil é economia mista. Também tem que satisfazer seus acionistas. O povo vem depois.
Ademais o Governo não tem a postura de bater de frente com ninguém. E ao meu ver, deveria. Pelo menos neste caso.

Na crise da baixa da venda dos automóveis, quando os bancos privados cortaram os empréstimos, penso que o Governo não deveria ter emprestado dinheiro para os bancos das montadoras, deveria ter ficado com esse valor no Banco do Brasil e ELE que oferecesse crédito barato para os consumidores. Aí sim obrigaria os Itaús, os Bradescos a correrem atrás do cliente.

Mas compreendo que as financeiras é que estão com o grosso das carteiras dos financiamentos de automóveis e nem todas elas são braços de bancos gigantes.

Contudo, se o Governo tem essa política de não bater de frente e isso tem dado certo (como percebemos que deu nos últimos 6 anos), ele deve saber o que faz.

Bem, o resumo da ópera é que o pobre diabo do cidadão comum, do vendedor de cachorro quente continuará se virando da mesma forma que fazia antes. Ele se contentará em cortar um pouco de sua já modesta margem de lucro em troca da continuidade das vendas. Coisa que Paulo Skaff, Monteiro Neto e tantos outros senhores do dinheiro nem cogitam fazer.

Como já disse o nada hipócrita presidente da Philips, "faremos de tudo para manter nossa margem de lucro"

Então, perca suas esperanças nesta área. Banco é banco, Meirelles é Meirelles e sindicato é sindicato. E esse último, já faz tempo que não apita nada.
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