quarta-feira, 1 de abril de 2009

"EU TENHO MEDO"

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A crise econômica é séria. Disso ninguém duvida. Uns fazem carnaval sobre ela tentando levar vantagens políticas. No Brasil, o PSDB tripudia com cara de "não falei?" e a imprensa deita e rola.

Mas as diferenças desta e de outras crises mundiais são grandes. Convém atentar para o que aconteceu quando uma outra, muito menos séria, ocorrida na Ásia, em uns paisinhos obscuros, mas que curiosamente foi para nós muito mais devastadora. Nos abalou cruelmente exatos 10 anos atrás.

A juventude que hoje está na casa dos 25, 27 (e que tinha 15 naquele tempo) insiste em falar sobre economia. Devia se deitar melhor sobre as páginas da história recente do país, para não ser pega em contradições e enganos.

Recém empossado após comprar com um mensalão de 200 mil dólares por cabeça a possibilidade da reeleição para a Presidência, Don Fernando desvalorizou o real. Não que não devesse. Apenas não devia ter feito de uma hora para outra, e numa tacada só. Os iluminados do poder naqueles tempos vinham sendo advertidos sobre isso desde 5 anos antes. Nossa moeda não tinha condições de manter paridade artificial com o dólar. Isso consumia todas as nossas reservas financeiras e levava à estratosfera nossa dívida pública.

O Estado não fazia mais investimentos. Vivia para pagar juros.

O cidadão comum enfrentava seríssimos problemas de ressaca após a "noitada" ilusória de que eramos naquela época, uma economia forte. Nossas exportações minguaram porque além de nossas indústrias não terem um perfil nato exportador, para o mundo, nosso produto era caro. Caro porque valia em dólar. Quem iria comprar?

Os empregos íam pelo ralo.

Don Fernando viajava e mostrava a todos como era amigo de Bill Clinton. O livro "A Melhor Democracia que o Dinheiro Pode Comprar", do americano Gregory Palast mostra muito bem em que bases se dava essa amizade. De coquetel em coquetel, dos discursos boquirrotos em francês ou no péssimo inglês carregado de sotaque que fala, Don Fernando passou a executar aqui em casa, seu grand finale.

"Vamos vender tudo!". Deve ter gritado ele do alto de uma montanha, segurando as doze tábuas na mão. Como tudo podia, baseado em um Congresso de maioria dócil, uma imprensa azeitada e um povo alienado, se colocou a fazer dinheiro com nossas empresas construídas com o suor do capital público.

"Fazer dinheiro"? Quer dizer, em termos. Até hoje não se sabe o que foi feito com a montanha de grana angariada naquela época. Montanha aliás, muito menor do que deveria ter sido se tivessem havido privatizações sérias. 

Basta ver por quanto foi vendida a Vale e quanto era seu valor real.

Estradas prontas foram cedidas para concessionárias pilantras que jamais promoveram duplicações ou obras de grande monta. O preço do pedágio para as antigas rodovias entregues chega a casa dos dois dígitos. Enquanto uma que é pedagiada atualmente, onde a empresa tem inclusive que CONSTRUIR a rota, o preço não passa de módicos 2 reais.

A gasolina subia com frequência (ou alguém já se esqueceu disso, embalado pela propaganda de que tinhamos uma economia estável?). Com muito esforço, conseguiram derrubar a produção de carros movidos à álcool que chegou a ser de 98% nos anos 80 para quase nada nos anos de Fernando. Venceram as grandes do petróleo internacional.

O preço das mercadorias explodia. Quem podia segurar a onda com tantos aumentos, pedágios, combustíveis, sem repassar nada?

Em virtude dos monopólios, as empresas pequenas quebravam e pediam socorro a um governo ausente. Nenhuma resposta. As gigantes nadavam de braçada reajustando preços e sendo amparadas por políticas insensatas. Agências de regulação foram criadas mas regulavam apenas o que era do interesse de quem pagava melhor. O desemprego assombrava e os bem intencionados da FIESP cortavam milhares de cabeças por mês.

Quase fizeram passeatas na frente das Casas Legislativas pedindo "flexibilização" nos direitos dos trabalhadores. A mesma que pedem hoje em dia. Menos direitos, menos salários.

A taxa de desemprego chegava a quase 20% nas regiões metropolitanas. Sim, VINTE por cento.

Don Fernando terminou seu governo execrado. Nem com toda a boa vontade de nossa imprensa tucana, conseguiu não ser considerado o pior de todos os mandatários, e não só da era democrática (pensou em Collor? Ele durou pouco, não lembra?).

Lula finalmente foi eleito não por sua capacidade, mas sim pela canseira do povo em acreditar nas mentiras do passarinho de bico grande. De toda forma, o operário surpreendeu àqueles que votaram só por desencargo de consciência e surpreendeu a muitos outros também.

Não surpreendeu a mim, que sempre soube que ele era muito mais capacitado que o insosso intelectual que nada escreveu.

Don Fernando tem papagaiado pelas páginas dos jornais que claro, sempre lhe dão ouvidos. Pretende voltar através de seu ponta de lança, ao poder. Pretendem, tal qual Bush filho aludindo à epoca de Bush pai, "terminar o que não foi terminado".

E justamente na época em que o mundo mais precisa de um Estado forte, eis que querem voltar os tucanos para passar a régua em tudo.

As empresas de fora iriam adorar poder abocanhar mais algumas jóias da coroa a preço de banana. Lá, o mercado já não lhes sustenta. Precisam novamente direcionar sua artilharia para o lado dos emergentes.

E sempre encontrarão alguém disposto a ceder aos seus encantos.

Como dizia Regina Duarte, "eu tenho medo", só que dos tucanos.



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