quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

CURITIBA: CAPITAL FUNDAMENTALISTA

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Quem mora em Curitiba já notou que a cidade tem tido nos últimos anos, ares de regressão. O que no final dos anos 80 e início dos anos 90 ajudou a propagar Brasil afora uma imagem de local visionário, futurista, inovador, deu lugar a políticas administrativas absolutamente arcaicas.

Não é mais só o trânsito do lugar que irrita o morador. O excesso de semáforos pipocando a cada dia nos lugares mais inóspitos da cidade (as vezes, sem volume de tráfego que os justifique), provocando uma lentidão e um congestionamento idesculpáveis, tem dado mostra a quantas anda a tal administração modernosa que o curitibano sempre se orgulhou de ter. Restrições e mais restrições no cotidiano é o que o vivente da capital do Paraná está se obrigando a engolir.

Nos últimos meses coisas curiosas foram sendo escancaradas também na questão cultural. Os bares, tradicionais ou não, vão sendo pinchados com multas atrozes e as vezes, sendo obrigados a fechar as portas por dias a fio. O motivo é a suposta algazarra ocasionada por seus clientes, ou pelo tal barulho da música. Não teria nenhum problema se essa bandalheira de fato, estivesse ocorrendo. Mas não está. Ao menos, não está na maioria dos casos. Ocorre que moradores mais antigos vão ficando simplesmente indignados com o trupé da boemia passando pela calçada e vão fazendo reclamações na Prefeitura. A administração, que já se mostrou amplamente favorável a matar a vida cultural independente da cidade, se une sem o menor compromisso com o ideal democrático, aos "velhinhos" de plantão, e dá-lhe caneta.

Isso vem de mais longe. A Pedreira Paulo Leminiski, palco de grandes levantes culturais do passado, foi simplesmente desativada. Não por outro motivo que a recalamão de meia dúzia de pessoas que moram por perto. O interesse público nesse caso, é desprezado. A vontade da maioria é jogada no riacho. A cidade não recebe mais shows de porte e o comércio da região, antes promissor, definhou até praticamente morrer. Empregos foram ceifados. A justificativa é a de sempre. A bagunça. Porém, a saída usada pelo poder público para tal fato é a mais tosca possível. Ao invés de organizar e policiar (sim, a Guarda Municipal pode fazer isso), é muito mais fácil simplesmente trancar as portas do lugar e o povo que se vire.

Houve uma promessa de revitalização de determinadas zonas e bairros, no sentido de levar para lá a vida noturna da capital. Mas como de costume, ficou só na promessa. Há mais de 10 anos a revitalização do bairro Rebouças foi anunciada. A construção de umas calçadas e a instalação de alguns postes foi tudo o que se viu. Largada à marginalidade, o local vai vendo as portas dos estabelemcimentos que acreditaram na promessa pública, se fecharem. Lugares que podiam ser geradores de emprego e renda, sem incomodar os mais "tranquilos" vão tornando mais cinzenta a vida da cidade. Os pequenos punguistas e consumidores de droga porém, continuam por lá e acham maravilhosa a "iniciativa" da administração pública.

Mas não é só no campo cultural que Curitiba regrediu. O morador também se lembra do imbroglio de alguns anos passados, sobre a polêmica proibição de estacionamento no início da Av. Visconde de Guarapuava, uma das maiores e mais congestionadas da cidade. Cortada por um inexplicável canteiro que divide a rua em dois, a Prefeitura achou mais simples, pra diminuir o engarrafamento, simplesmente arrancar as vagas de estacionamento de um trecho da via. O resultado não podia ser outro. Comércio fechando as portas ou dando lugar àqueles de menor valor agregado. Empregos indo embora em razão da teimosia da administração, em deixar inalterado o canteiro central. Alguns disseram que os canteiros eram "células de sobrevivência" para o pedestre que quisesse atravessar a rua. Coisa difícil de acreditar já que o canteiro conta com uma imensa grade sobre ele, impedindo justamente, que alguém atravesse a rua pulando por cima da grama.

As praças da cidade são outro caso curioso. Aquelas com ares europeus, mais "chiques" por assim dizer, com a ajuda dos fiscais da administração, vão tosando cada uma das  iniciativas particulares de levar cultura ao povo. Quem poderia um dia achar que esses espaços públicos da cidade viriam a se tornar zonas de acolhimento e propagação de atividade cultural, caiu do cavalo. Novamente a meia dúzia de moradores indigados entrou em ação. E venceu. Curitiba governa para uma panelinha.

O dado concreto é que a cidade vai se tornando um lugar fantasma. Bares bem frequentados que podem até trazer algum barulho, mas inevitavelmente trazem também segurança e vividez para a região, vão sendo obrigados a gastar fortunas em isolamento sonoro, as vezes absolutamente desnecessário. Lugares como o início da avenida Batel, que há dez anos estava entregue à prostituição e aos pequenos furtos, deram lugar a empreendimentos arrojados da noite paranaense. Mas não sem ter que submeter ao crivo implacável dos moradores vigilantes. E não sem ter que fazer obras tolas em contrapartida. A Prefeitura exige demais de quem é pequeno ou médio, mas nada fala dos grandes, como por exemplo, os shoppings centeres. Esses tudo podem. Ao ponto de se utilizar dinheiro público na construção de novas ruas só para lhes facilitar o acesso. A justificativa é que shopping não faz barulho. Três ou quatro bares grandes da cidade, geram tantos empregos diretos quanto a totalidade dos lojistas de um estabelecimento como o Mueller, por exemplo.

Nada disso parece não amolecer o coração de quem administra e comanda a cidade. Saídas existem, e muitas. Mas falta a mais elementar vontade política. Uma boa conversa com os comeciantes e com os moradores poderiam determinar diretrizes a serem seguidas. Ao invés disso, a Prefeitura prefere simplesmente colocar os fiscais na rua e as canetas em ação. Em Curitiba como tantos outros lugares, quem pode mais, chora menos. O próximo passo, por óbvio, parece ser a adoção compulsória da burca, para impedir que as moças da capital mostrem as pernas e o colo, afrontando o sentimento moralista da cidade. Afinal, isso também causa algazarra.


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Um comentário:

  1. Infelizmente esse é o "jeito curitibano de ser", eu sou curitibano, vivi aí por 46 anos, até metade do ano passado. Cidade extremamente provinciana, uma verdadeira "fazenda iluminada". E que os mais progressistas e preparem: Esse mesmo pessoal que manda na cidade há mais de 30 anos continuará no poder por mais algumas décadas. A população é elitista, se sente "na melhor cidade do Brasil", numa das "melhores do mundo" e outros chavões ditados pela mídia na administração do Rafael Greca, na época do aniversário de 300 anos da cidade (1993). Você sempre cita a Visconde de Guarapuava e eu a "linha verde".....o que é aquilo, que absurdo é aquele? Mas que deu milhares de votos pro Beto Richa, ahh, deu!

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