sexta-feira, 6 de novembro de 2009

GOLPE NO PARAGUAI

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A ladainha é sempre a mesma e você não vai deixar de ouví-la tão cedo. O temor de golpe volta ao continente. O paraguaio Lugo substituiu seus generais por outros de confiança por achar que estavam planejando um golpe de estado.

Isso, em um pedaço da mídia. No outro pedaço, ele já desmentiu. Falou que as substituições são coisas normais.

De todo modo, o que é preciso entender sobre tudo isso é que, em primeiro lugar, o crescimento do Brasil como potência econômica incomoda muita gente. Especialmente nos EUA. Não creio que incomode Obama, especificamente, mas tira o sono dos republicanos da estirpe de McCain e Bush. Esses sempre imaginaram que o mundo fosse deles e que a América Latina fosse seu quintal.

Não por acaso a expressão "quintal" foi cunhada nos bastidores do jogo político internacional. Eles acham e agem com se assim fosse. Não estão interessados no quê de bom um Brasil potente pode lhes dar. Querem saber apenas o que pederão com isso.

E digo isso tendo em vista que especialmente os republicanos (e os neorepublicanos como Hillary Clinton) não estão olhando para o aspecto econômico dos EUA. Ou seja, não têm interesse se podemos ou não ajudá-los a superar a crise e parece interminável. Estão apenas atrás de fortalecer e dar continuidade aos próprios interesses. E veja, frisando, não ligam para os interesses do país Estados Unidos, e sim, os interesses particulares desta camarilha que detém muito dinheiro aplicado por aqui  e nem cogita a possibilidade de perder algum tostão.

Os Bush são um exemplo. Odeiam a hipótese de um Brasil energeticamente forte. Especialmente porque não foram convidados para a festa, da maneira como gostariam.

Ainda que a Halliburton esteja presente em nossas terras, ela não é uma sombra de seu braço no Oriente Médio.

Quem está mais familiarizado com a história da América Latina vai se lembrar do caso emblemático da United Fruit Company, que era dona da Nicarágua, El Salvador, Honduras e tantos outros países. Praticamente toda terra agriculturável era de propriedade desta empresa estadunidense. E os EUA, como bonzinhos que são, usavam seus exércitos e seus mercenários pagos com dinheiro do contribuinte americano, através da CIA (que não precisa justificar verbas) para manter o controle privado sobre os governos locais.

Os EUA sempre preservaram seus lacaios.

E continuam fazendo. Basta olhar a situação que não se resolve em Honduras. Aliás, se resolve. Zelaya não volta ao poder de jeito nenhum. E isso já era sabido.

Hoje, com menos poder e menos dinheiro, a América do Tio Sam continua tramando contra a democracia no continente. E o fantasma dos golpes vai ressurgindo. De um lado porque os presidentes de esquerda insistem em tomar atitudes agressivas em defesa do interesse nacional, e isso torna os contrariados, verdadeiramente doidos da vida. E de outro lado porque os golpistas sempre sabem que podem contar com o apoio dos EUA.

Ainda que o apoio não seja oficial, sabemos que ele existe.

O motivo é bem simples. Os golpistas vendem a própria pátria em troca de poder e riqueza pessoal. Os EUA dão a logística e a grana porque não são loucos de perder uma boquinha tão rica quanto as eternas "repúblicas de bananas" que eles consideram ser o nosso continente.

O caldo do golpe está pronto.

Especialmente em países mais pobres como é o caso do Paraguai, de Honduras. E também da Bolívia e do Equador, só que lá os Presidentes conseguiram dobrar a lógica golpista. Pelo menos não tão em breve, haveria uma tomada de poder pela direita.

A coisa que diferencia a situação de hoje em relação a de 30 anos é que o povo já tem maior noção do que significa o golpe e como isso pode ser ruim para a coletividade. Exceptuando-se uma elite contrariada e um pedaço da eternamente alienada classe-média (burra, em qualquer país), ninguém apóia o golpe.

Antes era diferente. Além dos ricos e dessa parcela da classe-média, o próprio pobre não tinha noção exata do que significava uma ditadura na sua vida cotidiana. Prova disso foi a morte de Che Guevara na Bolívia.  Ele foi traído não só por muitos de seus seguidores bolivianos, como por muita gente da população, os campesinos miseráveis que o entregariam por um pedaço de pão. Como acontecia.

No fabuloso livro biográfico de Che, escrito por Jon Lee Anderson, são deitadas em linhas diversas razões para que o pobre boliviano fosse subtancialmente diferente do pobre cubano, que apoiou Guevara.

O resumo da ópera é que a correlação de forças da América Latina hoje é diferente. Mas os golpistas estão de plantão, esperando a melhor oportunidade. E é sabido, eles não descansam nunca, especialmente porque sabem que podem contar com a (nem tão) poderosa América.

Vá se acostumando com esta notícia porque ainda ouvirá muitas outras vezes pelo continente latino americano.

Clique aqui para saber porque Zelaya não volta de jeito nenhum.
Clique aqui para ler sobre a CIA e os golpes.
Clique aqui para saber que nossa imprensa não é contra o golpe, desde que seja da direita.
Clique aqui para saber o que a Folha (que emprestou veículos para a ditadura), não acha do golpe.
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