quarta-feira, 6 de outubro de 2010

DANE-SE ELEITOR

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O brasileiro está em um dilema e ele mesmo não percebeu. Na campanha eleitoral de 2010 está na dúvida se quer um país do futuro ou um país do passado. Se quer ser de primeiro mundo ou se quer continuar a ser eternamente o incrível gigante adormecido.

Esse comentário não tem a ver com a campanha de Dilma ou de Serra. Vai mais além. Tem a ver simplesmente com o nível do próprio eleitorado.

Pois sim, a culpa é do eleitorado que tenhamos que perceber essa avalanche de boatos circulando sobre um ou sobre outro. 

Aproximadamente nos anos 1920 no leste europeu se discutiu a questão do aborto. Os países que eram contra fizeram suas leis e os que eram a favor, fizeram suas leis. Por aqui, com 100 anos de atraso somos obrigados a ler correntes de e-mails acusando fulana e cicrano de serem a favor, de não se posicionarem contra, de isso, ou de aquilo.

Como dito, o nível da campanha se dá pelo eleitor e não pelo marketeiro que é pago pra pensar em um assunto, criar um boato e se encarregar de espalhá-lo na rede.

Se o eleitor coloca a mão na consciência talvez ele consiga enxergar que pouco importa a opinião de um Presidente da República sobre essa questão. Em países republicanos como o Brasil (e também como Estados Unidos, a maioria da Europa) o Presidente não faz leis. Quem faz lei é o Congresso, A função do Presidente é cumprir as leis e providenciar o desenvolvimento do país com medidas "executivas".

Na campanha do primeiro turno que terminou na semana passada, quantos senadores e deputados discutiram abertamente sobre o aborto? Dá pra contar nos dedos no Brasil inteiro. E o eleitor não se apercebeu que a obrigação de discutir o assunto é deles, e não dos candidatos à Presidência. São os deputados e senadores que fazem as leis, mas a boataria que impera na internet não deixa que o cidadão comum veja isso com tranquilidade.

A função de quem ocupa a cadeira da Presidência é propor medidas de crescimento para o país, de alternativas para a criação de empregos, de aplicação do orçamento da nação (que funciona como numa casa, onde a pessoa decide onde vai empregar o salário do mês), de quais são as prioridades.

Ao invés disso, o eleitor brasileiro perde seu tempo dando ouvidos a boatos ridículos sobre fulana porque era terrorista, de cicrano porque tem pacto com o demônio e de não sei quem, porque não consegue entender direito o que o jornal de economia está dizendo.

Isso definirá se seremos realmente um eleitorado de primeiro mundo ou não. Isso definirá se a cadeira da Presidência será ocupada por alguém que vai tomar as medidas necessárias ao conforto e a sobrevivência dos brasileiros e brasileiras, ou se ficará governando um país de mentirinha, projetado pra agradar quem tem poder e dinheiro e deixando a Deus dará o resto da população.

Pois não vamos nos iludir. Os reponsáveis pelo espalhamento dos boatos são pessoas diretamente interessadas em construir essa candidatura e destruir aquela. São marketeiros políticos que pouco se importam com quem será seu governante. Estão apenas interessados em quantos milhões de reais sua agência de publicidade embolsará pela vitória de seu candidato.

A coisa está mais ou menos parecida com briga de torcidas no final de um clássico no domingo. Enquanto torcedores ingênuos que choram pela derrota de seu time atiram paus, pedras e armas de verdade contra os adversários, os jogadores dos dois times se encontram na churrascaria chique da cidade depois de seu refrescante banho no vestiário. Os técnicos discutem para qual time irão na próxima ou mesmo no meio da temporada. Todos pensam onde estará o melhor salário e a melhor projeção para sua carreira.

E o torcedor, se matando lá fora, discutindo se camisa A ou B é mais bonita. Se o estádio A ou B é maior ou se o time A ou B teve mais títulos ao longo da carreira.

A imprensa, que deveria ter papel moderador nisso tudo, pouco ajuda. Nossos veículos de comunicação são famosos por atearem fogo no circo para ver qual candidato se compromete mais com eles, liberando mais verbas para seu segmento de imprensa, quando forem eleitos.

Ou seja, no topo da sociedade vemos um círculo de pessoas com os interesses mais safados que se possa imaginar, criando boatos e histórias sobre o adversário, para ver se prevalece o seu único interesses. Dane-se o país e a discussão séria. Pretendem apenas converter o Brasil num picadeiro e recolher os lucros no final.

Vejo com tristeza pessoas que eu considerava inteligentes, se dando ao trabalho de ler e repassar essas correntes inúteis. Uma vez um político europeu sério, nos anos 80 disse o seguinte: "Quer saber a verdade? Desligue a televisão".

Mas ao contrário disso, o povo se comporta como gado no pasto, indo exatamente para onde quer o homem montado no cavalo, com a ajuda de seu cachorro. O homem no cavalo são os interessados na vitória, os que lucrarão depois. Os que perdem seu tempo espalhando boatos são o cachorro. Os cães que acordam as 5 da manhã e voltam pra casa as 23h e ganham no final do mês, somente a ração e alguns ossos para serem roídos.

E o eleitor é o gado sendo conduzido para o abate. Em outras palavras, só quem ganha nessa história são os poderosos de sempre. O gado e o cachorro não fazem diferença no final.

O povo brasileiro já deveria ter passado dessa fase. Não estamos mais em 1900. Estamos no século 21. Na minha opinião, quando você encontrar na sua caixa postal aquele "RE" ou o "FW" antes da mensagem, se dê conta que é uma corrente. Se encontrar um título bombástico para o e-mail, acorde para a realidade e deixe de ser infantil. Ou é boato ou é vírus.

Além do mais, não existe relato na história de corrente espalhada pela internet ,que tenha sido realmente importante ou produtiva para o país. Só para quem espalha.


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