terça-feira, 7 de outubro de 2008

A CRISE PERFEITA



Tenho ouvido constantemente pessoas, notadamente da classe-média, reclamarem enraivecidas do Presidente Lula e o fato de ele estar dizendo que a crise mundial não chegará ao Brasil.

Bem, a história não é essa. De forma alguma ele disse isso. Pelo menos, em nada que eu tenha lido ou visto, ele falou uma coisa dessas. Mas a imprensa... sempre nossa imprensa...

Lula disse que a crise para nós, AINDA é diferente da crise lá fora. E ele afirma isso todo dia.

O ex-Presidente de Portugal, Mario Soares tem uma tese sobre a imprensa brasileira. Ele, lá de longe, já percebeu que ela torce pelo quanto pior, melhor. E além de torcer, trabalha para isso.

Quem mora no Brasil, assiste ao Jornal Nacional de vez em quando e tem o QI maior que 0,5, já se deu conta disso.

Pois então. O que ocorre é que as crises econômicas, em sua maioria, são crises de confiança no mercado. Isso significa que se você ficar fazendo alarde e tocando fogo no mundo, terá problemas maiores. Não se trata de dizer ou não dizer a verdade sobre a crise mundial. E mesmo que diga, a verdade é uma só. O Brasil não está com o mesmo problema que a Europa e os Estados Unidos.

Claro que seremos afetados, mas não dá pra comparar o que está acontecendo hoje com o que aconteceu em 1999. Naquela época éramos completamente dependentes do capital externo, nossas reservas eram pífias e mais de 30 por cento de nosso comércio dependia dos Estados Unidos. Hoje em dia é tudo diferente.

E aliás, é MUITO diferente.

Nosso crédito interno não depende tando de dólares como naquela época. Nossa dívida pública não é mais lastreada na moeda americana, ela é totalmente em Reais. Não temos mais pendências com o FMI (apenas pagamos juros antigos), o que não os deixa ter ingerência sobre nossa economia. Hoje somos um país credor, ao invés de devedor como costumávamos ser.

Nosso mercado inteno dá conta da maior parte da nossa produção de bens, o que faz com que dependamos em muito menor escala das exportações. Nossos bancos não têm feito recompras de créditos sem lastro como os americanos e europeus fizeram no auge e no limite da irresponsabilidade financeira.

Não temos mais um índice de desemprego de 2 dígitos como tínhamos em 1999, nem tampouco, temos o índice de desemprego que tem a Europa. E nesta seara, os Estados Unidos estão caminhando a largos passos, porque transferiram continuamente suas plantas produtivas para países do terceiro mundo em busca de salários baixos pra produzir suas mercadorias.

Enfim. Os motivos são muitos.

Decerto vai ter muita gente dizendo que eu estou louco. Mas números são números. Basta fazer as contas.

Mas claro, tem outra coisa. A crise piora se você deixar de comprar como costuma comprar. O gasto e o crédito são a base do capitalismo. Se você gosta do capitalismo e acha que o socialismo é coisa do passado, não vá deixar de ir às compras. É exatamente isso que está acontecendo nos EUA e na Europa. O povo ficou sem dinheiro por causa de aplicações financeiras horrorosas (que gestores criminosos fizeram sumir, e o governo não fiscalizou e não puniu) e agora não pode mais comprar bens de nenhuma natureza. Isso quebra, mesmo, qualquer economia. É um ciclo vicioso, uma reação em cadeia.

Apenas pense em todos esses aspectos na próxima vez em que ouvir falar da crise mundial.

Aliás, eu diria mais. Se pude, comece a ler a imprensa de fora. Mesmo que seja a argentina. Lá eles não tem os Marinho nem os Civita pra distorcer e mudar os fatos de acordo com o que lhes interessa. E se o fizerem, estarão fazendo em seu próprio país, não conosco.

Se puder, leia o NY Times. Apesar de todos os pesares, eles não costumam fazer jornalismo achando que o público de imediato, é um imbecil.


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