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Circula na internet um email enviado por um advogado trabalhista a um colega das antigas. Particularmente não sei se o email é fato ou mais um dos criacionismos da rede, mas pouco me importa. O que me interessa é seu conteúdo, que é ipsis literis o que tanto já publiquei neste blog, desde os tempos que era bastante lido até hoje, quando beira o ostracismo por pura negligência de seu operador de timão (não, não me refiro ao Curíntia).
O email fala da hipocrisia de nossa classe média abestada. Triste, feia, decrépita. Pobre, em todos os sentidos. Deveria ela assumir seus delírios e devaneios e realmente colocar às claras o que pensa. Mas ficam se escondendo atrás de figuras patéticas como o errante FHC e o agonizante José Serra, que tanto desserviço já prestaram a esta nação.
E acrescentaria mais. Se realmente a maioria das pessoas engolisse o trololó preconceituoso que tanto se espalha hoje em dia, especialmente pelas vias eletrônicas (email e Facebook), Lula e Dilma não teriam vencido as eleições. Ou seja, na prática o povo até arrota caviar, mas no escondido das urnas, prefere comer sardinha porque sabe que assim está garantindo um futuro para o país, emprego e escola para seus filhos.
Como sempre digo e este texto a seguir repete igualzinho, gostemos ou não, o país mudou. Isso não é discurso da esquerda. Só não vê quem não quer.
Acompanhe as palavras que faço minhas:
"Caro Lara:
Tenho, quase que diariamente, recebido os seus e-mails, que trazem
piadas, “fotos interessantes”, e propaganda daquilo que, politicamente,
você acredita. Quero crer que estou me dirigido à pessoa certa, ou
seja, ao Lara que conheci em Pompéia, na infância e adolescência. Se
assim é, tenho algumas gratas recordações, de nossa convivência que, ao
tempo, pela idade e sem as agruras que viríamos a experimentar durante a
vida, era muito boa. Recordo-me mesmo que uma das suas habilidades,
invejada por todos nós da mesma classe ginasial, era a incrível
capacidade que tinha de “colar”, já que você se abastecia de um grande
estoque das “sanfoninhas” (era o tipo de “cola” da época), que escondia
perfeitamente em sua mão direita e que lhe permitia -grande perfeição
!- colar sem interromper a escrita e, -perfeição maior !-, até mesmo
diante do olhar atento do professor. Ao que me recordo, nunca, nenhum
dos professores, na fiscalização que faziam, conseguiu algum êxito
diante de você. Nesse partícular, você era imbatível.
Mas, deixando-se de lado tais reminiscências, eu estou me dirigindo à
você para tratar de assunto que, diante de sua volumosa correspondência
eletrônica, parece lhe interessar: trata-se de questões que envolvem a
visão que temos da forma como vem sendo dirigido este país, melhor
dizendo, a questão política. Para se ter uma conversa franca, devo dizer
que temos uma visão de mundo muito diferente. Acho mesmo, oposta. Em
minha profissão (sou advogado) acabei aprendendo a conviver na
divergência, já que, diariamente, senta do lado de lá da mesa de
audiência, ou dos autos do processo, um colega de mesmo grau de
escolaridade que defende justamente o contrário. Adversário. Mas,
terminada a audiência, retomamos o relacionamento, ou seja, é um
aprendizado constante e permanente, a nos ensinar que devemos respeitar
os que pensam de forma diversa. Transposta tal relação para a política,
também aprendi a respeitar aqueles que tem uma visão de mundo diferente
da minha, embora com eles não concorde. Entre tais “adversários” de
pensamento existem dois tipos: os que assim agem por convicção, e os que
agem por interesse. Creio que você se enquadra entre os primeiros, ou
seja, você tem ideias, a meu ver, que eu classifico como
“conservadoras”, mas que são catalogadas no jargão político comum como
“reacionárias”, ou por alguns “direitistas”, ou, se formos levar ao
extremo a sociologia política, “fascistas”. Para mim, no entanto, você é
um “conservador”, por convicção. E é aí que eu quero conversar com
você.
Existe no Brasil uma forte corrente de pensamento conservador.
Sempre existiu, aliás, durante o império e durante a república, todos
os presidentes e Governos , até 2003, sempre tiveram um perfil
conservador, uns mais outros menos. Todos. Getúlio Vargas (1º Governo,
ditadura) liderou uma “revolução” -que não era revolução no sentido
sociológico do termo- contra práticas condenáveis da República Velha, só
isso. Pertencia a elite agrária, era fazendeiro e fez um Governo
ambíguo, criando uma legislação trabalhista (que estava sendo criada,
ao tempo, por quase todos os países de mesmo grau de desenvolvimento que
o Brasil), e criou dois partidos políticos – o PTB, para lhe servir –
e o PSD, conservadoríssimo, para ajudá-lo a governar. No mais,
encarcerou a oposição e restringiu as liberdades públicas.. Em 45 foi
substituído pelo Dutra (outro conservador), que dissipou todas as
reservas cambiais que havíamos acumulado com a substituição das
importações, durante a guerra. Getúlio volta em 1950 e aí, após um
início de governo meio indefinido, começa a aproximar-se de ideias
progressistas, mas não conseguiu implementá-las, já que, ameaçado de
deposição, suicidou-se. Juscelino foi um inovador em realizações, mas
seu governo, embora aparentemente liberal nos costumes, sempre foi um
produto das classes dominantes e um fiel seguidor da política americana.
Jânio se foi muito rápido , e Jango também nada tinha de progressista:
era filho de uma família de riquíssimos fazendeiros, era despreparado
para a função e sua queda dá bem a medida de seus compromissos de
classe: preferiu viver rico no exílio, do que participar ou liderar uma
revolução popular com a qual não se identificava. Seguiram-se os
governos militares, Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique. Se
examinarmos todas as medidas tomadas por tais governos (algumas muito
boas, até) veremos que nenhuma delas teve a preocupação ou conseguiu
alterar o sistema de distribuição de renda no país, -um dos mais
injustos do mundo. A dívida externa sempre em patamares impagáveis, o
salário mínimo medeando entre U$ 80 a U$ 120 dólares, lenta queda da
mortalidade infantil, poucos avanços na afalbetização, grande
transferência de rendas para o exterior, sistema de saúde pública
catastrófico, destruição da escola pública, gigantesca falta de
moradias e favelização, polícia corrupta, Justiça que não funciona,
previdência privada mais cara do mundo, seguros mais caros do mundo,
alta tributação e assim foi. Só discursos, só demagogia, e muita
roubalheira.
Aí vieram a eleição em 2003, reeleição do Lula e eleição da Dilma.
Muitos erros, houve e há corrupção, muitas coisas não deram certo, os
quadros do PT, em grande parte, eram despreparados para administração,
enfim, as coisas não saíram como o PT pregava. No entanto, o salário
mínimo triplicou (em dólares), a renda familiar cresceu, a dívida
externa foi paga, o consumo aumentou muito, o emprego cresceu ( e o
desemprego despencou) e o Brasil conseguiu crescer, ao meio de uma
grande crise internacional .Caro Lara, esses são fatos . Fato é fato,
não é discurso, nem proselitismo político, nem palavrório. FATOS. O País
está em regime de pleno emprego ( é a 1ª. vez em nossa história que
isso acontece), e no ano de 2011, em um universo de 200 países, fomos o
4º. País do mundo em receber investimentos externos, só atrás dos
Estados Unidos, China e Hong Kong (notícia do Times, reproduzida no
Estadão e Folha na semana passada, com pouco destaque). A arenga de que
o Governo, em 2003, pegou uma condição internacional favorável é
coversa para boi dormir: muitos outros países não progrediram, muitos
entraram em crise, o sistema financeiro internacional em 2008 quase
ruiu, enfim, o Brasil navegou muito bem por sua conta e seus méritos.
Pensar de modo diverso é revolver a mentalidade colonialista.
Mas, estou eu a pretender que você se torne um apoiador do Lula e da
Dilma ? É claro que não, até porque na nossa idade ninguém muda mais. É
que eu acho que essa sua “cruzada” contra, poderia ser muito mais
consequente e séria. Já que na clássica definição “partido político é a
opinião pública organizada”, porque vocês, conservadores, não fundam um
partido que expresse tal ideologia ? A grande farsa que existe é que os
conservadores, ou os direitistas, ou os neoliberais, não assumem o
próprio rosto. O PSDB (neoliberal) não se diz neoliberal, diz que vai
mudar, que é de centro esquerda, que é progressista, e outras baboseiras
mais. Porque não se diz neoliberal, e faz um programa neoliberal ?.
E vocês, conservadores, porque não se assumem, e fazem um programa com o
conteúdo daquiIo que vocês acreditam; contra as cotas, contra o aborto,
contra o casamento gay, pela redução dos direitos trabalhistas, dos
impostos, por uma política externa mais invasiva, etc, etc, , tal qual o
Partido Republicano (Conservador) dos Estados Unidos ? Se você fizer as
contas, aqui como lá, o eleitorado se divide, o que, aliás, ocorre em
todos países civilizados (França Inglaterra, Austrália, Itália,
Espanha, Alemanha, Austria, etc, etc, etc). Ou seja, no mundo todo, o
eleitorado se divide em conservadores e progressistas. Mas, aqui não, em
razão da hipocrisia política da direita, a luta não é limpa. Estimule a
criação de um verdadeiro partido conservador, que defenda as teses
conservadoras e o modo de governar conservador e aí, sim, teríamos um
debate limpo, direto, sem enganações, sem subterfúgios. A meu ver, essa
situação da direita esconder suas verdadeiras propostas, de vestir um
manto progressista quando não o é, é a pior forma de trapacear uma
nação, posto que esconde seus verdadeiros desígnios. Em suma,já é tempo
de sair do armário e vir corajosamente para o debate de ideias.
O outro ponto que gostaria de conversar com você é sobre a forma
negativa e pejorativa de sua “crítica” política. As piadas, imagens,
dizeres, etc, que se referem aos que não pensam como você, revelam um
rancor que tem de tudo: preconceito, desinformação, insultos, etc. Se
você acha que este tipo de crítica desperta alguma simpatia para as suas
ideias, ou fazem mal a figura dos criticados, então está na hora de
você fazer algumas reflexões sobre o que muda as pessoas. Uma pessoa
decente muda de opinião quando você demonstra que ela está errada. Só
não mudará se tiver “interesses” em se manter no erro, ou, então, se
por alguma razão (preconceito, ignorância, intolerância,
irracionalidade, etc) não entender o seu erro e o significado da
mudança. Fora disso, a “propaganda” pejorativa contrária é um tiro na
culatra. E isso é tanto no aspecto individual como coletivo. O Lula
cresceu eleitoramente depois que mudou sua imagem para o “Lula, paz e
amor”. Antes, o eleitorado preferia o FHC, com sua voz e modos
blandiciosos. Serra com sua linguagem belicosa só perdeu votos. Obama
derrotou duas vezes os seus adversários com um discurso suave, sofrendo
agressões de todo os lados. O Berluscomi e Sarkosi, na Itália e
França, perderam as eleições, em razão de suas práticas autoritárias e
arrogantes. Enfim, na medida que a sociedade evolui, essa linguagem
truculenta, ofensiva, enganosa, que intui uma falsa moralidade e prega
medidas radicais extremadas (para os outros, nunca para si) vai caindo
em desuso, não engana mais ninguém. Pode ter servido em outra época,
chegou a levar os hitlers e mussolinis ao poder, mas, hoje em dia,
ninguém mais cai neste canto de sereia. As pessoas querem é ser
convencidas, sem imposições.
Bem, fico por aqui. Se você quiser prosseguir mandando-me os e-mails,
gostaria que não mais me enviasse os relativos à política, a não ser
quando nesta terra tiver um partido conservador, ou direitista, ou de
natureza fascista ( o Plínio Salgado pelo menos teve coragem e
honestidade criando os “camisas verdes”), para que se possa ter um
debate decente e honesto. Daí sim, quem sabe, talvez até eu me convença
de que existe alguma verdade nessas ideias trapaceadas e escondidas sob o
manto de uma falsa moralidade. Ideias tão escondidas, tal como você
fazia com as colas e era invejado por toda classe.
Abraços e saudades.
Valter Uzzo
PS: Se você não é a pessoa que eu penso, peço desculpas."
Se quiser ver o original no blog do Nassif,
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