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A leitura do perfil do brasileiro fuzilado na Indonésia é interessante e não destoa do glamour que leva muita gente ao tráfico.
É uma vida de sonho, caso o traficante seja bem sucedido. Tal qual James Bond.
Mas os traficantes não entram nessa, salvo raras exceções, por necessidade. Entram pela sede do dinheiro fácil, pela ganância, pelo pouco apreço ao trabalho cotidiano.
Igualmente James Bond, o traficante mata. Bond tem "licença" para isso, concedida pela Rainha da Inglaterra. O traficante não tem a licença, ao menos, não a tem formalizada, pois sabemos da vista grossa que a grande maioria dos governos do planeta Terra, faz em relação a este assunto.
Ao ouvirmos a lição dos Racionais MCs, dizendo que pobre não tem pista de pouso pra trazer drogas da Colômbia, fica mais claro entender onde está o problema.
Me lembro que minha mãe me falava, quando eu era garoto, para tomar cuidado com as drogas. Droga era bom e dava o barato, por isso, viciava e era perigoso. Se me dissesse que droga era ruim e eu experimentasse e gostasse, ia achar que ela estava mentindo, que estava de sacanagem comigo. Daí, já seria tarde. Eu já teria provado tantas vezes, que ficaria viciado. É da essência do adolescente achar que os adultos não sabem nada. O jovem rebelde quer provar que ele sim, é quem sabe das coisas. Minha mãe optou pelo caminho certo e eu nunca cheguei nem perto de droga alguma. Fumei baseado uma vez. Me deu tanta dor de cabeça (sei lá o que tinha nele), que eu nem pensei em repetir.
Só que se ao invés de me apresentarem a droga para consumir, tivessem me apresentado a droga para vender, talvez a lição da minha mãe não tivesse servido para nada. Eu estava preparado para ouvir um único discurso do submundo, o da "viagem" e da "libertação" das drogas. Eu não estava preparado para ouvir o discurso das maravilhas que ser traficante poderiam me conferir.
Qual garoto da minha época não queria ser o James Bond? Viajar o mundo todo, ter lindas mulheres. Carrões. Usar smoking e ser bem humorado. Talvez eu tivesse sido presa fácil se o traficante tivesse me cooptado por essa via.
Isso me levou a pensar diversas vezes, que as campanhas contra as drogas são capengas. Elas partem apenas para o lado do usuário. Antes elas era praticamente umas peças da Disney. Não atingiam o ponto em sí. Hoje, até mostram um cara definhando, sem dentes, com alguma doença fatal adquirida pelo compartilhamento de seringas ou lesões advindas das surras dos credores da droga. Mesmo assim, elas poderiam ser mais realistas. Sempre podem ser mais realistas.
Mas do traficante, pouco se fala. Até porque, boa parte das vezes, ele está bem entrosado na sociedade. A mídia, que por diversas vezes chamou o brasileiro fuzilado de "instrutor de asa delta", induz a imaginarmos que ele era um mané, que por uma fatalidade do destino, foi levado a traficar. Mas instrutor ele nunca foi. Ao contrário, reconheceu nesta entrevista, que sempre traficou. Que nunca fez outra coisa na vida que não fosse isso.
Talvez Marco Archer não tenha tido o vislumbre de imaginar quantas pessoas ele levou à morte. É que o tráfico, em certo grau, é glamourizado. Ele lembra das festas, das modelos, dos carrões. Mas não se lembra, ou se lembra pouco se importa, do que ocorre no submundo, até que a droga chegue ao usuário bacana, aquele que frequenta a alta roda, aquele que vai às festas em que ele está.
Archer se não fosse um criminoso contumaz, seria no mínimo, um otário irresponsável, filhinho de uma mamãe que nunca lhe impôs nenhuma responsabilidade. Esse, eu acho, é o pior perfil do meliante. O meliante rebelde sem causa. Que faz o ilícito porque não tem mais nada pra fazer na vida. Porque não precisa trabalhar, ajudar em casa, pagar a escola.
É o passador/usuário admirado nas parábolas cariocas e do resto do Brasil, onde o cara bacanão, bem humorado e bonito, descoladamente, deixa a todos num barato e leva a vida na flauta. Mas como já dito, o problema não é ele. Ele poderia se matar de consumir drogas, que socialmente, teria pouca relevância. O problema é o rastro que ele deixa atrás de sí. De mortes, de estupros, de pessoas queimadas nos microondas das favelas. Eu não sou de forma algum a favor da pena de morte, mas compreendo quando uma sociedade opta por ela para dar cabo justamente de quem dá cabo de sua família. É um grito de desespero, na realidade.
Cada cidadão do nosso convívio, sabe onde está o problema maior das drogas. Sabe que não adianta prender o favelado que trafica crack se um cidadão viaja com meia tonelada de cocaína num helicóptero, e esse helicóptero é de um Senador da República, com seu piloto, em sua fazenda.
De quem era aquela meia tonelada de droga? Ninguém sabe. Eu também não sei, mas desconfio.
Esse lado horripilante e realista das drogas, a imprensa omite, reservando ao traficante miserável todas as penas, inclusive a permissão moral de ser fuzilado. Mas ao traficante ricaço e bem relacionado, nenhuma restrição séria é feita. Não são poucos os casos de famosos que bem se relacionam com essa gente. Como se pode esperar que a coisa seja séria, se a sociedade comum não pede realmente, punição a todos os bandidos?
A maior punição a um traficante, além da prisão, e ser retirado de circulação social. É ser condenado ao ostracismo moral, é ser refutado pelos amigos. Ao contrário, todos cientes de que droga é "bom", os que pouca responsabilidade têm na vida, andam de mãos dadas com essa gente.
Logo atrás destes bon vivants, que compram drogas para abrilhantar suas festas à beira da piscina, vêm os viciados comuns. Os que sustentam o lado mais trash deste mundo, que é o das drogas pesadas, que aniquilam, definham e matam em pouco tempo. As cracolândias que todos odeiam são apenas o resto do consumo de drogas nos prédios chiques. Mas os dois lados são igualmente perniciosos.
Onde estão os pais e as mães que não criam seus filhos direito? A mãe rica, a mãe da classe média, e hoje em dia, até a mãe pobre, que entrega a educação para a escola, e se incumbe apenas de tornar fácil a experiência de seus rebentos, neste planeta. Como se a vida fosse um passeio sem fim.
Ilusório imaginar que o flagelo das drogas será vencido com a atuação da polícia e dos governos. Se não houver consumidores, não haverá traficantes. Se não houver traficantes, não haverá droga para se distribuída. Somente nestas duas pontas é que se resolvem os problemas. E não adianta enxugar gelo, achando que a cadeia ou mesmo a pena de morte impedem o cometimento do ilícito. O mundo tem dado mostras suficientes de que isso não funciona.
O que impede a venda e o consumo das drogas é a educação vinda de casa. De familiares que efetivamente se importem. É mostrar ao bonitão que quer traficar que em primeiro lugar, ele pode até ganhar dinheiro com isso, pode até passar ileso pela vida toda, mas será que é esse realmente o caminho que quer seguir? É pra isso que ele serve, socialmente falando?
Só que isso só pode ser feito em casa. Em nenhum outro lugar.
Clique aqui para saber do mimimi na imprensa sobre o fuzilado.
Clique aqui para ver que Marta é a nova Marina, e quem perde é você, com tanto trololó.
Clique aqui para saber da relação do Charlie Hebdo e os terroristas.
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2 comentários:
Velho, sinceramente não sei quem você é e nem sei o seu nome, mas sou fã dos seus comentários, sempre muito lúcidos, fundamentados, consistentes e muito sérios, sem perder o bom humor e muito menos usar o humor para escrachar ou desmerecer eventuais oposições. Muito Obrigado, meu amigo, continue com seu grande trabalho e um grande abraço para ti, GURIZÃO !!
"O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES - O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS"
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O que dizer do governador que construiu
vários aeroportos no meio do mato,
longe de tudo no interiorzão de Minas Gerais?
O que dizer do governador que construiu
todos esses aeroportos no meio do mato,
no interiorzão de Minas Gerais e que
é AMIGO ÍNTIMO DOS DONOS DO FAMOSO
HELICÓPTERO DO PÓ DOS POLÍTICOS DE MG?
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