domingo, 9 de novembro de 2008
POR QUE SER DE ESQUERDA É DIFÍCIL
O Luiz Carlos Azenha, o Eduardo Guimarães, PHA e alguns outros acreditam e expressam a opinião de que falta coragem política para Lula.
Talvez externem essa opinião numa vontade de "acordar" o presidente, que na visão deles, está por demais acomodado.
Guimarães compara os avanços sociais obtidos na Venezuela, Equador e Bolívia com os obtidos no Brasil e justamente por isso, dizem que ao mandatário brasileiro falta coragem.
Bem, me lembro como se fosse ontem, de um discurso de Hugo Chávez numa das edições do Fórum Social Mundial realizado em Porto Alegre. Na época, o escândalo do mensalão ainda comia solto pela nossa imprensa e a audiência do Fórum, "impressionada" com isso, boa parte dela composta de setores mais radicais da esquerda, defenestrava Lula, que seria um "traidor".
Chavez tomou o microfone e disse "Vou falar uma coisa que sei que nem todos aqui vão gostar. O Brasil não é a Venezuela" Ele quis dizer que cabem 6 Venezuelas, 14 Equadores ou 18 Bolívias no Brasil. Alguns setores ( a maiorida deles, infelizmente) continua olhando de maneira ingênua para a construção de um país. Espelcialmente de um país complexo como o Brasil. Boa parte desses setores estão à esquerda. Acham que uma boa dose de "socos na mesa" bastam pra colocar as coisas nos eixos.
Ok, falta apenas combinar com o adversário.
A classe média do nosso país é de 30 por cento da população. Ou seja, somente nela cabem as populações desses 3 países citados mais o Paraguai. Alguém aí tem idéia de como é mudar a cabeça de 60 milhões de pessoas?
Vajamos, colegas, que nos EUA, quando Bill Clinton propôs a criação de um sistema universal de saúde para os pobres, foi taxado de socialista. É preciso muito jogo de cintura pra cambiar o cérebro das pessoas. Especialmente daquelas que NÃO precisam (ou acham que não) do auxílio do governo. Por muito menos do que isso, pessoas foram execradas publicamente e cometeram suicídio na América do Norte, na época do Macarthismo. Ser chamado de comunista é uma coisa que para muita gente, é igual a ser chamado de anti-cristo.
Se pensarmos que nessa altura do campeonato e com a popularidade de que o Presidente goza, por isso não precisa mais de contemporização para promover a governabilidade, imaginemos o que aconteceria se do dia pra noite, digamos, o governo resolvesse nacionalizar todo o ramo do petróleo do país, como fez Chavez. Adeus Shell, Texaco, Esso e etc. E que isso fosse para um ótimo motivo: pegar todos os lucros que são distribuidos a essas empresas, incluindo a Petrobrás que há muito é uma economia mista e direcionar especificamente para a educação e saúde do povo necessitado.
A pergunta que eu faria é, para quanto vocês acham que iria a aprovação popular do Presidente que hoje é de 80%? Iria pra 100 ou pra 30?
Nesses 3 países citados por Guimarães, havia uma elite encastelada e poderosa. Mas era uma elite setorizada e distante da população. Ela estava em 2 ou três nichos específicos do país e comandava 80% de toda a riqueza da nação. Os panelaços promovidos pelos venezuelanos loiros de olhos azuis (visivelmente a minoria da população) não encheriam os ônibus da torcida organizada do Flamengo. Por isso Chavez se perpetua no governo. Em qualquer um desses lugares citados, a elite é barulhenta e poderosa, mas é grosseiramente uma minoria.
No Brasil, a matemática não é a mesma. Só para se ter uma idéia e atavés de uma conta simplista, o número de votos que Serra teve para a Presidência, é maior do que toda a população do país de Hugo Chávez. Essa é hoje em dia, claramente uma população com ideais à direita. E que de modo algum concordam com as concessões promovidas por governos populares.
Isso sem mencionar os empresários. Que são muito mais poderosos do que a elite de nossos 3 países amigos e muito mais espalhados pelos diversos ramos da economia capitalista. Quer um exemplo? Pense no setor supermercadista e no industrial jogando todas as suas fichas na desestabilização da economia brasileira.
Pra quem tem boa memória, lembremos que os supermercados e a indústria (a indústria na época era menos diversificada, é verdade) adoravam a inflação de 80% ao mês. O povo não tinha a menor idéia de quanto realmente custava um produto.
Isso, no meu modo de ver, demonstra claramente a indubitável necessidade de acordos para governança. E pegando uma carona num pensamente de Eduardo Guimarães, eu diria que os militares, mesmo tendo sofrido horrores nas mãos de FHC, se pudessem, tiravam Lula do poder e de bom grado, devolveriam à direita. Por qual motivo fariam isso?
Simplesmente porque Lula até pode ser extremamente popular, mas o ideal da esquerda, no Brasil, ainda não é. E infelizmente, não será tão simples assim, implantá-lo.
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Um comentário:
Você está correto Marcelo. O Lula conhece o Brasil e os brasileiros. Não é possível dar murro na mesa e levar as coisas para onde quiser.
O trabalho de desmascarar "os donos do país" está em andamento. O problema é que nossos amigos são impacientes e acham que o Lula é algum superhomem.
Chegaremos lá, se nos urnirmos para continuar este trabalho por mais 8 anos e mais 8.
Cada coisa a seu tempo.
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