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Morreu o jornalista americano Walter Cronkite aos 92 anos no dia 17 de julho. Ele chegou a ser conhecido como o "homem mais confiável da América". Seus modos e sua reputação foram seguidos por milhares de pessoas, notadamente tantos estudantes de jornalismo ao redor do mundo. Não é exagero dizer que chegou a fazer escola inclusive no Brasil.
O detalhe é que Walter, como a maioria grosseira da mídia estadunidense não era assim tão isento como adorava se entitular, e como, infelizmente era encarado pela população. Havia uma confiança depositada alí nos veículos de comunicação, que de maneira desafortunada, era vilipendiada sorrateiramente por estes senhores. Cronkite, como o resto da mídia, dava as notícias (a despeito de sua credibilidade) de modo que ela ficasse sempre de acordo com o que pregava o stablishment, e o american way of life. Se os fatos estivessem de acordo com a ditadura de pensamento reinante na América, ótimo. Se a verdade verdadeira não coincidisse com esses pragmatismos, se modificavam os fatos e que se dane a isenção necessária ao bom jornalismo.
Havia e ainda há, tanto lá como cá, um pavor de promover a investigação sobre determinadas verdades prontas. Uma delas é a paúra do comunismo. Como se cansou de falar neste blog, comunismo e capitalismo são sistemas econômicos. Nada tem que ver com democracia e ditadura. Houve ditaduras comunistas? Claro. Mas também houve o mesmo tanto de ditaduras capitalistas. Basta olhar a América Latina dos anos 60 a 80 para ver. Nenhuma única era comunista. Eram todas inclusive apoiadas pela meca da "democracia", os Estados Unidos.
Esta semana mesmo, ao falarem do bufão que preside a Coréia do Norte, com seus testes nucleares sem sentido, tive que ouvir na BandNews algo assim "O regime comunista de Pyongyang blá blá blá". Ora, se aquele cara é um doente mental sem dúvida o mundo deveria se preocupar, mas eu queria saber o que isso tem a ver com o regime comunista, um regime econômico. Bush não era vermelho, bem sabemos. E basta olhar seus estragos pelo mundo para concluir se ele não deveria ter sido tirado de circulação por alguém de bom senso, especialmente por seus eleitores. Mesmo assim, eu jamais ouvi a BandNews e o trololó de Boris Casoy, falarem do tal "regime capitalista de Washington".
É uma das verdades prontas que a imprensa jamais vai questionar. E não vai por um único motivo. Aliás, dois motivos. O primeiro é porque seus donos não querem finalmente deixar que o povo entenda que alhos nada tem a ver com bugalhos. Afinal, isso lhes custaria muito caro. E o segundo motivo é que boa parte de nossos ilustrados noticiadores, também nunca chegaram a esta brilhante conclusão. Jamais se permitiram (nem permitirão) pensar um pouco além e perceber que eles mesmos sempre foram uma bela e insossa massinha de manobra de certos grupos econômicos.
Se o seu inglês estiver mais ou menos, assista o vídeo abaixo e note o cuidado com que Walter Cronkite fala sobre a repercussão soviética à morte de JFK. Em Moscou já diziam de cara que era impossível Kennedy ter sido assassinado por um aventureiro (Lee Harvey Oswald) e que aquilo era em verdade, obra dos racistas e conservadores do sul estadunidense, notadamente no estado do Texas (terra de qual ex-Presidente americano?). Estavam descontentes com Kennedy especialmente depois do desfecho nada satisfatório para a elite branca, da crise dos mísseis de 1962, onde JFK abriu as pernas e fez acordo com Krushev, outro liberal* moderado. Cronkite no vídeo, sempre faz questão de frisar que tudo aquilo ali que ele está falando, é uma mera reprodução do que provém do "regime comunista soviético". Um medo brutal de ser confundido com o texto que ele lia na tela.
Cronkite fez escola pregando o tal modo de vida americano, que no começo foi fenomenal mas em pouco tempo degringolou em 40 milhões de estadunidenses vivendo abaixo da linha da pobreza, e em políticos espalhando bombas e assassinatos pelo planeta afora. Escola esta que nossos fabulosos globais (e todos os outros das "4 grandes", com seus incríveis tentáculos na mídia radiofônica e escrita) seguiram a risca, especialmente quando personificados pelos intelectuais do Higienópolis e os tecnocratas da venda do patrimônio público brasileiro.
Uma tristeza que a mídia seja vassala deste jeito.
* Krushchov era liberal no sentido americano da palavra, que para nós, corresponde a ser de uma esquerda moderada. Não liberal no sentido tucano de governar, vendendo tudo a preço de banana e colocando pedágios a 17 reais.
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