segunda-feira, 20 de outubro de 2008
O CIDADÃO EM TRANSE
Para quem não leu, reproduzo aqui, o ótimo texto de Mauro Carrara, publicado no Viomundo.
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"O seqüestro: é você sob a mira de um revólver
Como o povo paulista foi seqüestrado e humilhado pelos criminosos da falange midiocrata
Mauro Carrara
A mocinha mais encantadora da escola, olhos meio tupinambás, cabelos negros e compridos, alegre e falante, teve o cérebro atravessado por um fervente projétil de arma de fogo. Eloá é a vítima mais visível do desgoverno insano e cínico que mantém São Paulo em cativeiro desde Março de 2.001, quando ascendeu ao trono estadual o suserano alquimista. Ser paulista, hoje, equivale a viver num buraco imundo, úmido e molhado, sob a mira trêmula de um revólver, mas diante de uma TV que anuncia maravilhas da autoridade midiocrata.
Os paulistas sofrem, sobretudo, por conta da educação com padrões de quinto mundo, cujo projeto foi iniciado pela secretaria Rose Neubauer, há 13 anos. O Estado converteu-se, assim, na terra dos jovens analfabetos, zumbis sociais, filhos do regime de "aprovação automática".
No campo das obras públicas, sob a bandeira de treze listras, prospera o paraíso das empreiteiras e dos "gatos". As irregularidades se multiplicam, mas o campo de força da Assembléia Legislativa impede qualquer investigação detalhada sobre a farra com o dinheiro público.
Não bastasse a máfia dos pedágios e aquela dos fiscais associados aos parceiros do DEM, parte de São Paulo ainda foi entregue ao crime organizado. Quando o acordo sofre ameaças, o PCC simplesmente assume o controle de toda a gleba, como ocorreu em Agosto de 2.006.
Unanimidade sob vigilância do editor careca
São Paulo já sofrera muito, outras vezes, sob a direção de embusteiros como Ademar de Barros, Laudo Natel e Paulo Maluf. Estes, no entanto, encontravam aqui e ali o julgamento crítico, e muitas vezes a oposição, de veículos da imprensa hegemônica e dos jornalistas.
Constituído pela aliança dos setores quatrocentões, pela elite industrial e pelos ventríloquos do neoliberalismo bandeirante, o sistema de governo tucano cuidou, desde 1.995, de privar o Estado de qualquer debate público de idéias.
Esse controle se faz pela cooptação de profissionais de imprensa, muito bem remunerados, pela censura prévia exercitada nos "aquários" das redações e pela duras punições aplicadas aos jornalistas não-alinhados.
Nas redações da Barão de Limeira e da Marginal Tietê, há os chamados "telefones azuis", pelos quais o dono da mídia paulista, o calabrês José Serra Chirico, encomenda matérias, edita verbalmente textos e determina demissões.
"O Serra mandou" é frase comum, pronunciada em cochichos nas redações dos dois principais jornais paulistas.
Quando o calvo mandatário se vê ocupado, destaca algum de seus lugares-tenentes para a função de editor-chefe. Pode ser Aloysio Nunes Ferreira Filho, José Aníbal ou Angelo Andrea Matarazzo, tido orgulhosamente no PSDB como o "Chuta-mendigo", por conta de sua política de perseguição ao povo-de-rua.
Como pagar a conta da subserviência
Ao arrendar a imprensa paulista, entretanto, tucanos e demônios necessitavam oferecer uma contra-partida ao publishers aposentados dos jornalões. Considerada a queda vertiginosa da venda de anúncios nas mídias tradicionais, bolou-se um plano espetacular.
A prefeitura serrista-kassabista proibiria toda a comunicação dos pequenos, especialmente a publicidade de rua. Com isso, o comércio teria de fazer o caminho de volta à mídia tradicional. Assim nasceu o projeto "Cidade Limpa", defendido com unhas e dentes pelos dois pesados jornais e pelas emissoras de rádio e TV envolvidas no projeto.
Doze meses após a implantação da lei, dados internos de Folha e Estadão mostravam que os anúncios impressos haviam crescido entre 18% e 22%, englobando setores como o varejo automotivo e o negócio imobiliário.
Em adição, mimos e promessas de "inclusão" midiática garantem o apoio religioso de formadores de opinião, como do apresentador José Luiz Datena, do sub-humorista Marcelo Tas (do programa CQC), do animador de festas Carlos Tramontina e do teleator dramático Boris Casoy.
No caso da parceria demoníaca, é preciso fazer caixa para manter essa hegemonia informativa. Desse modo, as subprefeituras se converteram em estações de captação de recursos.
A principal central de coleta é a subprefeitura da Mooca, na qual as quadrilhas de fiscais costumam agir livremente. Recentemente, a ação criminosa se tornou tão escancarada que a polícia foi obrigada a enjaular o braço direito do subprefeito e um dedicado cabo eleitoral do alcaide Celso Kassab. Aricanduva, Lapa, Santana e Vila Prudente vivem processos semelhantes, de formação de caixa a partir da exploração do comércio informal.
Mesmo com as provas obtidas pelo Ministério Público, entretanto, a mídia arrendada apenas finge cobrir esses casos. Atira-se, convenientemente, tudo para baixo do tapete.
O paulista diante de seu algoz
Há quem diga que o doentio apoio popular ao governo de intervenção midiática se deva a uma espécie de Síndrome de Estocolmo, denominação que expressa a estranha afeição que seqüestrados desenvolvem por seus algozes. Outros apostam no paralelismo entre o modus político do grupo encastelado no poder e a alma ancestral do paulista de botinas, escravizador de índios.
Por fim, há quem acredite na inoculação permanente de poderosos sedativos e alucinógenos nas veias do paulista. Em cativeiro, para manter-se dócil, ele recebe diariamente cargas de drogas midiáticas. Por isso, jamais questiona, por exemplo, a responsabilidade do governo midiocrata na tragédia do metrô, que vitimou sete cidadãos-contribuintes.
Esse também seria o motivo pelo qual o cativo não atribui ao governador qualquer culpa na baderna urbana que opôs, na porta de sua casa, policiais civis e militares. Afinal, José Serra apresenta seu próprio telejornal e determina aos reféns paulistas que é "tudo culpa do PT e da CUT".
Em Santo André, no drama de Lindembergue e Eloá, o senhor de todas as emissoras, permitiu que seus funcionários microfonados reprisassem o filme "A Montanha dos Sete Abutres", estrelado por Kirk Douglas, no papel de um jornalista fracassado que prolonga o drama humano para ter o que contar a seu público (assistam ao DVD e confiram a semelhança). O resultado da armação foi parecido: uma intervenção desastrada e a interrupção brutal de um sonho de vida. No entanto, será que só isso serve para despertar sua atenção, você que é outro dos seqüestrados?"
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Faço minhas as palavras dele, porque vivemos o mesmíssimo drama em Curitiba, onde o Alcaide detém toda a mídia e toda a opinião da cidade. Esta "maravilha de primeiro mundo"
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