O pacote inicialmente proposto por Bush e seus amigos para "salvar" a economia estadunidense, de algo em torno de 700 bilhões de dólares, é muito dinheiro. Aqui não se diz que ele não seja necessário já que de fato, uma crise de confiança generalizada tem efeitos (em termos de prejuízos financeiros) tão ruins quanto o Katrina, um terremoto ou um vulcão em erupção.
Além do mais, já deu pra perceber que esses 700 não ajudam a destruir nem a ponta do iceberg. Como eu mesmo já cansei de falar, a economia americana é virtual. Todos nós pagaremos o preço por isso.
A questão é: por qual razão deixaram chegar a esse ponto? Isso derruba de uma vez por todas toda a falácia sobre o tal "livre mercado". É livre até que esteja dando lucro para alguns. Começou a dar prejuízo para esses mesmos alguns, passa a ser de responsabilidade estatal.
Na BBC Brasil temos a notícia de que o presidente do Lehman-Brothers ganhou bônus no valor de 300 milhões de dólares nos últimos 8 anos. e também, logo após a quebra do banco, ele defendia a compensação milionária para seus executivos. Quer dizer, dane-se o mundo, o que importa somos nós.
Alguns executivos tinham contratos de trabalho prevendo indenizações de até 100 milhões de dólares em caso de demissão. Mesmo sem caso de falência do banco.
É inevitável agora que a crise nos atinja a todos. Especialmente em se falando de imprensa brasileira que adora uma catástrofe e está louca para jogar no colo do governo, a "incompetência" em lidar com o furacão mundial. Em verdade há coisas que podem ser feitas, mas de toda forma, essa é uma crise muito mais séria do que aquela que nos jogou de joelhos em 1998.
Por enquanto ainda estamos vivos. E precisamos não cair na crise de confiança. Essas sim, estouram a economia.
Bem, com a dinheirama proposta inicialmente pelo bom samaritano George Walker Bush (keep walking) daria pra fazer muitas coisas. Algumas delas foram listadas pelo jornal alemão Der Spiegel (reproduzida pelo Vermelho). Selecionei as mais importantes.
Vamos lembrar que pra essas coisas selecionadas, o governo alega não haver dinheiro. Mas o pacote pros bancos, o saudável Proer americano, saiu em menos de uma semana.
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Pagar os salários de 22 milhões de pessoas
U$ 700 bilhões seriam suficientes para pagar o salário médio anual a 22 milhões de pessoas nos Estados Unidos. De acordo com o Departamento do Trabalho dos EUA, o pagamento médio por uma semana de trabalho foi de US$ 612 em agosto passado.
Estabelecer cobertura de saúde universal
Os EUA poderiam finalmente estabelecer seguro de saúde universal, um objetivo que até agora foi constantemente evitado pelos políticos. O governo poderia financiar até seis anos de seguro de saúde para cada um de todos os cidadãos estadunidenses.
Construir 100 barreiras ao redor de Nova Orleans
O projeto para fortalecer as barreiras em torno de Nova Orleans poderia realmente ser pago mais de uma centena de vezes. Desde o furacão Katrina, o governo gastou cerca de US$7 bilhões em tais esforços.
Comprar duas Dinamarcas
US$700 bilhões é suficiente para financiar as economias de países inteiros. A soma considerada pelo Congresso é mais do que o dobro do produto interno da Dinamarca, o qual em 2007 foi cerca de US$ 312 bilhões.
Financiar todo o orçamento nacional da Alemanha durante mais de um ano
Projecções estabelecem o orçamento nacional da Alemanha para 2009 em 288 bilhões de euros, os quais, às atuais taxas de câmbio, resultam em cerca de US$ 420 bilhões. Com esta soma de dinheiro seria possível financiar o país durante 1,6 anos.
Combater a pobreza na África durante 10 anos
Este montante de dinheiro poderia financiar programas da ONU para combater a fome e pobreza na África durante 10 anos. De acordo com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, o continente precisa de US$72 bilhões por ano de ajuda ao desenvolvimento.
Lançar múltiplos "New Deals"
Franklin Dellano Roosevelt ficaria verde de inveja. Seu "New Deal" da década de 1930, inigualável até agora como programa de crescimento, poderia ser financiado muitas vezes mais. Segundo o Wall Street Journal, os investimento de infraestrutura do programa custariam cerca de US$ 250 bilhões em dólares de hoje. Estes investimentos ajudaram a construir ou renovar 8.000 parques, 40 mil edifícios públicos e 71 mil escolas.
Salvar a Terra (ao invés de bancos)
Ao invés de ajudar bancos, US$700 bilhões poderiam ser utilizados para salvar o ambiente. Esta, pelo menos, é a opinião de M. A. Sanjayan, cientista principal do grupo de proteção ambiental The Nature Conservancy. Embora os dados dos institutos de investigação variem consideravelmente quanto à quantia precisa que seria necessária para por o ambiente de novo numa base saudável, todos concordam em que US$ 700 bilhões dava para um longo caminho.
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