sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

MINO CARTA

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Mino Carta se despediu da "olivetti". Fazia tempo que ele demonstrava um inescapável desconforto com tudo, um desapego e um desalento com a política brasileira.

Não sem razão, naturalmente. Política é dureza em qualquer lugar do mundo. Na sua Itália, não é diferente e ele sabe bem disso.

Mino critica muito a opção conciliadora de Lula, de evitar enfrentamentos e de ir comendo pelas beradas.

Sabedor da história, Mino deveria se recordar do jurista Cícero, o romano. Cícero assim preconizava em seu A República (em outras palavras porque não tenho o original aqui comigo para me salvar): "O governante não deve governar nem só para os ricos nem só para os pobres (...) pois do contrário, dos dois ouvirá descontentamento" e portanto, haverá perigo. Uma sociedade que só privilegie os ricos potencializa o golpe dos pobres. A que só privilegia os pobres, potencializa o golpe dos ricos.

Infelizmente, goste Mino ou não, Lula está certo.

Que não diga que este governo nada fez para os pobres. Os ricos estão "cansados" de gritar sobre as tais esmolas, sobre as cotas, sobre as vagas na universidade. Cansados de gritar sobre o bolsa família que fez muia gente comer carne pela primeira vez na vida. Que ajudou o agreste a ter uma geladeira em casa. Ali Kamel está aqui para provar, através de seu ódio indisfarçado à toda gente miserável (leia aqui) , que Lula fez sim, muito para o pobre.

Mas que não se diga que só governou para os pobres. Os bancos e as megaempresas estão aí para provar que o Brasil é a terra das oportunidades.

Mino pendurou as chuteiras o que é uma pena, já que seus escritos são valiosos. Mas não deveria nesta altura da vida ficar tão desacorsoado. A gota d´água parece ter sido o caso Battisti. Gritou tanto contra o Ministro da Justiça! Gritou mas não leu a lei brasileira, que já estava aqui muito antes de Battisti virar manchete. E ela é igual para todos, nesta seara.

Battisti foi o beneficiado. Mas outro qualquer no lugar dele, também seria.

Mino poderia até não gostar de Battisti, e Berlusconi também não gosta. Só por este motivo, penso que já é um bem para a humanidade o que foi feito nesse caso. Loucura foi que até a Veja elogiou o Ministro. Disse que fôra correto. E foi mesmo. Além do mais, nossos juristas corroboram.

Mino neste caso se deixou levar pelo canto da sereia da grande mídia brasileira, esta mesma que ele tanto critica. E critica com razão. A mídia queria colocar um estopim no colo de Lula por dar "abrigo a um terrorista". Bem, a lei brasileira já deu abrigo a outros "terroristas" só que na época, de extrema direita, e ninguém chiou. Não chiaram primeiro porque concordam com o terrorismo que eles promoviam e em segundo lugar, porque sabiam que a lei dizia que era certo.

Deste modo, não importa a cor da camisa de Battisti. Importa que a lei dizia e o Ministro a cumpriu. Mas sei que nesta hora, muitos dos meus amigos legalistas estão torcendo o nariz. Sabemos que a lei só é boa mesmo, quando vai ao encontro de nossos interesses. Do contrário, ela não presta.

Mino esperava que com a eleição de Lula, o Brasil se converteria no Paraíso. Esqueceu que até no Paraíso metade das pessoas estava descontente e tramou com a ajuda de forasteiros (a serpente) a subversão da ordem.

Não vou chamar Mino Carta de ingênuo, porque isso sim, seria desrespeitoso de minha parte. Perto do que ele sabe, não sou nada além de um moleque impúbere.

Acho apenas que Mino cansou.

Pena que vá, Mino. Está cedo. Aprendi a ler muita coisa através de suas letrinhas, e agradeço muito da ideologia e do bom senso que penso carregar hoje em dia.

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