quinta-feira, 2 de junho de 2011

A MÍDIA E O CHILIQUE DOS AEROPORTOS

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A imprensa brasileira padece por problemas séríssimos. O maior deles, na visão deste escriba, é a falta de noção. Deve ser algum vírus ou algo que colocam na água nas faculdades de Jornalismo. Parece que quanto mais o tempo passa, mais alienados, conservadores e complicados ficam estes senhores.

Esta manhã ouvindo a rádio BandNews, escuto de um especialista sobre a questão do cancelamento dos vôos por causa de neblina nos aeroportos: "é muito melhor ter um vôo cancelado do que correr o risco de morrer".

Ora, estas palavras deveriam bastar. Após explicar que apenas 3 aeroportos no mundo detém os dispositivos que possibilitam um pouso absolutamente às cegas, e que por óbvio, mesmo assim isso é um risco, a jornalista em questão continuava instigando o entrevistado para que dissesse algo de outro mundo, que inventasse que o Brasil não presta, que não sei o quê. O Brasil não é exceção. Os 3 aeroportos com o tal  ILS zero-zero (que permite o pouso sem nenhuma visibilidade) estão todos nos Estados Unidos. Nenhum lugar na tão chique Europa ou outro país do planeta os têm, também.

Mas a jornalista insistia no "caosaéreo". Que dureza.

E o que o especialista queria dizer? O óbvio. Nenhum equipamento garante totalmente a segurança de um avião. É muito melhor contar com ajuda eletrônica, mas com a visão do piloto. É preciso ter alguma visibilidade. Explicando mais, se um aeroporto está muito encoberto, não vale a pena correr o risco. E se o equipamento falha? O vôo da Air France ta aí pra mostrar no que dá.

Outro dia, parado num aeroporto na cidade de Cascavel (PR) e esperando que Curitiba abrisse após um imenso nevoeiro, ouví um chilique de um passageiro. Gritando muito alto, dizia que aquilo era uma vergonha. Parecia até o Boris Casoy, pelo tom "indignado". Porém, claro, talvez como o fatídico jornalista, aquele chiliqueiro também reclamasse dos outros, mas sentasse no próprio rabo.

Talvez ele ficasse tranquilo em colocar o traseiro num avião, sabendo que corre o risco de se estrepar ao pousar. Eu pessoalmente, não tenho essa tranquilidade.

No programa do rádio, nem estava terminada entrevista em cadeia nacional, eis que na praça de Curitiba o âncora, do mesmo jeito sem noção que aquela que o antecedera, e como se não tivesse ouvido absolutamente nada do que o entrevistado falou, bradava que o aeroporto internacional da cidade ficou fechado por 11 horas desde a noite passada. Ele parecia ter urticárias com isso.

Amigos jornalistas, convém explicar. Vocês moram em Curitiba. Vocês moram no Sul do país. Aqui tem muita neblina e os aeroportos ficarão fechados por muitas e muitas vezes ainda, até que quem sabe, nossa tecnologia evolua satisfatoriamente ao ponto de nos garantir a segurança nos pousos.

Já que pelo que aparenta, vocês são tão donos da sapiência universal, conversem com o Todo Poderoso e peçam para que ele dê um jeito nas coisas por aqui.

Até lá, vão se acostumando. Primeiro porque voar não é mais só para os chiques (vez que a "elite" nacional adora ter chiliques e dar carteiradas). Segundo, porque o planeta todo sofre do mesmo problema. 

Experimente ir de carro ou de ônibus na próxima vez.


Clique aqui para relembrar do chilique de racismo num aeroporto da elite.
Clique aqui para ver algumas diferenças entre a mídia brasileira e a de fora. 
Clique aqui para ver o que é falta de criatividade no mercado de livros-denúncia.
Clique aqui para ver que Boris Casoy agiu exatamente como esta moça intrépida do aeroporto.
Clique aqui para ver como pensam nossas elites.
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3 comentários:

Luiz Carlos disse...

Prezado blogueiro.
Já experimentou ouvir a tal da CBN - a rádio que estraga o dia? Tem até repórter de plantão nos aeroportos para informar sobre a situação dos vôos. Interessante, nas rodoviárias não há nenhum repórter para informar sobre as saídas, atrasos, cancelamentos, a saúde dos motoristas, salário, condições de trabalho, o estado dos ônibus. Até parece que ônibus só existe quando há acidente grave, ou greve.
Outra coisa, na CBN não ouvi ainda nenhum comentarista minimamente isento. Contra o governo federal então selecionaram a nata dos contra. O espaço para o contraditório é mínimo. É só pau, dia após dia, com exceção dos domingos, dia reservado aos esportes. Como ter respeito pelo jornalismo se os jornalistas não se dão ao respeito. Abraço.

Carlos Cwb disse...

O ILS-3 tem tres categorias, como pode ver no link:

http://www.avsim.com/geoffschool/combined/ilscat.htm

O único a operar comercialmente com o 3-C é o de Heathrow, Inglaterra.
Todos os outros operam com 3-B, que dá teto zero e visibilidade horizontal de 50m, no mínimo.
Pilotos tem que ser treinados para 3-C e as aeronaves equipadas com sistemas de pouso automático.
No Brasil, Galeão e Cumbica contam com ILS 3-B. Seria suficiente para Curitiba, também.

Carlos Cwb disse...

Em tempo: Veja um pouso cat 3-B em Bruxelas:

http://www.youtube.com/watch?v=vsPtW4eR1vw