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Uma coisa todos nós temos ciência. Ninguém é obrigado a saber tudo.
No entanto, certas atividades tomam um caráter tão relevante em nossas vidas que elas assumem o que o Direito costuma chamar de "múnus público", que seria mais ou menos "um encargo público, (...) embora não seja agente estatal" (leia na Wikipedia). Essa expressão, normalmente direcionada à advocacia, pode ser empregada também em grande parte de nossa cadeia social atual.
A imprensa é uma dessas atividades abrangidas pela expressão. Ora, não é a ela que procuramos quando precisamos saber de alguma coisa? Não é ela que se arvora na qualidade de protetora dos fracos e oprimidos? Não é ela quem diz ser o grande paladino contra as iniquidades e corrupções mil da política mundial?
Se ela carrega em seu bojo todos esses entendimentos sobre ela mesma, natural que devesse carregar também, senso crítico e humildade. Mas esses dois itens efetivamente não estão disponíveis no pacote de opcionais do grande imprensalão brasileiro. A imprensa critica, mas não aceita nunca ser criticada. Ao menor sinal de revide promovido por algum ofendido por qualquer acusação injusta e desprovida de provas, ela já sai gritando que é censura, e acusa, especialmente se esse ofendido for o governo, de ele ser ditador.
Notadamente claro, se o governo for de esquerda. Governos de direita não costumam sofrer fiscalizações severas da mídia, por motivos subterrâneos e que nós "nem podemos imaginar".
Falei tudo isso pra pegar no pé do jornal Tribuna do Paraná, de Curitiba. A manchete da capa estampa um crime que não é mais crime. E mesmo se ainda fosse, não tipificaria o que a notícia queria dizer, realmente.
Alí, lemos que o bebê foi "raptado" em uma loja. Ora, a figura do rapto esteve presente no Código Penal Brasileiro até 2005. Depois disso, o verbete deixou de existir em nossa codificação, primeiro, por ter seu sentido absorvido por outro artigo de lei e depois, por não espelhar mais uma realidade social, considerando que o Código Penal foi escrito em 1940.
Rapto, quando existia na lei, significava sequestro com fins libidinosos. Rapto não era o mero sequestro, como se pode imaginar pela leitura da manchete aqui apresentada. Assim, ela só poderia estar correta se o bebê em questão, fosse retirado de seus guardiães, com algum fim sexual. Mas não foi o caso, o suposto criminoso queria se assenhorar da criança por motivos diferentes. Em outras palavras, o correto seria dizer que a criança da notícia, foi sequestrada, e não, raptada.
Sendo assim, a Tribuna errou duas vezes. Primeiro, por atribuir a um crime, a tipificação de outro, e depois, por ressuscitar uma figura penal que há 6 anos não está mais presente em nosso ordenamento.
O jornalista é obrigado a saber tudo? Não, claro que não. Mas não seria obrigação do bom e responsável órgão de imprensa, colocar no setor policial de sua publicação algum jurisconsulto?
Por certo não fariam isso. Já pagam suficiente mal os jornalistas, não pagariam mais um funcionário graduado para dizer o que eles podem ou não podem fazer.
Por certo não fariam isso. Já pagam suficiente mal os jornalistas, não pagariam mais um funcionário graduado para dizer o que eles podem ou não podem fazer.
Ora, a indignação deste blog não é sem razão. Ainda que esse pareça um erro de menores proporções, ao conversar com médicos, economistas, contadores e tantas outras profissões, nos damos conta de quantos absurdos a mídia ventila, sem ter a menor idéia do que está falando. No caso da criança raptada, a notícia não traz outras consequências sociais pelo erro. Quem leu, entendeu a mensagem. Mas e quando se apregoam tratamentos milagrosos com "barbatana de tubarão" que podem causar câncer? E quando trazem a bancarrota de determinada empresa, sem ser verídica e aí sim, leva à falência o tal ente? E quando por motivos político partidários ela tenta criar pânico social e provoca correria e desespero, as vezes, causando incríveis revoltas populares que nascem sem motivo real algum?
Hoje em dia a mídia em geral está assim distribuída: 50% de profissionais mal informados e alienados, 25% de profissionais éticos e responsáveis e 25% de mal intencionados. Eu procuro louvar e conviver com os 25% bons, mas é um fato que os outros 75% transformam o país num circo.
Clique aqui para ver que o Ministro confirma que o eleitor é imbecil.
Clique aqui para ver que o PSDB quer contratar um sociologo para fazer o que FHC não sabia fazer.
Clique aqui para ver que o PT se debate com o próprio PT.
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2 comentários:
Hehehe o tipo penal era "raptar mulher honesta para fins libidinosos".
Muito bem observado. Enquanto profissionais, todos nós devemos procurar a excelencia em nossos ramos. Em outras searas, procurar a assessoria do profissional da area como sinal de humildade e respeito a outras areas do saber e da melhor informaçao ao usuario final.
No Brasil, a midia dribla alguns inconvenientes convidando papagaios de pirata, os denominados "especialistas" quando querem ou precisam dar verossimilhança(adoro essa palavra, faz a gente parecer culto), uma estupidez veiculada.
Valeu pela iniciativa de esclarecer as pessoas.
cesar, anonimo por preguiça.
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