Eu costumo gostar da imprensa britânica. Ela é muitas vezes mais honesta que a estadunidense e infinitas vezes mais bem intencionada que a brasileira.
Mas de vez em quando eles pisam legal na bola. O Guardian publicou uma reportagem a respeito de um telefone celular lançado pelo governo da Venezuela, que segundo o diário bretão, faria uma alusão pejorativa a uma palavra sinônimo de "pênis". Vejam o texto em tradução livre:
"´O Guardian se enganou - o nome do telefone celular não é vulgar e a mãe dele não tem motivos para ruborizar´: Hugo Chávez defendeu o Vergatario.
O Presidente da Venezuela usou o discurso na televisão para rebater a reportagem do início desta semana que dizia que alguns venezuelanos se sentiram ofendidos pelo nome, derivado de uma palavra casual para pênis.
"No Guardian eles pensam que é alguma coisa rude. É um grande engano. Eles são ignorantes", ele disse.
O telefone subsidiado feito pelo governo - ao preço de 15 libras, um dos mais baratos aparelhos - iniciou sua venda esta semana e é a última iniciativa pró-pobres da revolução socialista ao estilo de Chávez.
No programa de televisão apresentado do Palácio Miraflores, Chávez diferenciou Vergatario de Verga, a palavra cotidiana para pênis. Ele citou o dicionário de referência da língua espanhola, o da Real Academia Espanhola, que define Vergatario como um adjetivo que significa qualidade e valor.
O Guardian disse que a palavra denotava excelência, mas que alguns venezuelanos a consideravam vulgar. Parte da definição da Real Academia - "adj. vulg. Ven" reconhece a conotação. Moradores da segunda cidade da Venezuela, Maracaibo, são conhecidos por construírem palavras derivadas de Verga.
(...) O Presidente pareceu gostar do debate como uma oportunidade de marketing para o aparelho que depois de satisfazer as demandas domésticas, será exportado em 2011. O Guardian pode não precisar esperar tanto tempo para ter um. "Nós vamos mandar um para eles", disse Chávez.
Pelo menos o Guardian publicou a errata em bom tamanho e suficientemente visível. Coisa que OBVIAMENTE não aconteceria no Brasil. Aqui, como sabemos, nossa imprensa nunca erra. Jamais.
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