terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O DISCURSO DE OBAMA

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O discurso da posse de Obama é uma obra muito bonita. Muito bem redigida e tem, inclusive, passagens que fazem claras referências às palavras usadas por Lula na mesma situação, em 2003. A mais chamativa delas é a "esperança venceu o medo".

O que se pode deprender de sua leitura é que aparentemente, muitas coisas mudarão na América, se depender do Presidente. Outras, nem tanto.

"Não temos que nos desculpar por nosso modo de vida", disse ele. Também mencionou os países que "culpam o ocidente por seus problemas". Falou daqueles (sem citar nomes) que espalham o terror.

De maneira geral, as palavras são alentadoras. Existe, naturalmente, aquela coisa intransponível para um americano (e para a maioria dos seres viventes): entender que comunismo não significa nazismo. Para eles é impensável imaginar que comunismo é somente um sistema econômico que rivaliza com o capitalismo.

Para quem não se lembra ou nunca se deu conta, a América Latina inteira já teve cruéis ditaduras. Nenhuma delas foi comunista. Inclusive a do Brasil. A África ídem. E também convém lembrar, todas essas ditaduras foram implantadas e apoiadas de maneira graciosa pelos Estados Unidos da América. Só para livrar o mundo da "ameaça" do comunismo. Pois bem, qual dos dois seria mais sangrento?

Mobutu Sese Seko, que o diga.

Sendo assim, comunismo não pode ser confundido com ditadura. Do contrário, capitalismo também deveria. Você pode até não gostar do sistema, mas não pode dogmaticamente, confundí-lo. Foi baseado nesse medo que os irresponsáveis do mercado fizeram o que fizeram e trouxeram uma crise como essa para o mundo. Foi implantando o mesmo terror usado por George Bush para validar o assassínio de milhares de pessoas, que nasceu o argumento para extirpar a vigilância e a fiscalização do mercado.

Disso Obama não se livrou. Nem se pode esperar que o faça. Talvez em seu íntimo, saiba de tudo isso. Talvez até faça a distinção. Mas seus colegas compatriotas não são assim. Não têm esse vislumbre.

Nós brasileiros carregamos em nosso DNA certas limitações. Os americanos carregam outras.

Obama parece ter vívida noção de que é preciso fazer alguma coisa para tirar seu país do atoleiro. Mas, jogando para a plateia ou não, continuou reafirmando a "liderança" dos Estados Unidos no mundo: , "estamos prontos para liderar mais uma vez", disse ele. Mesmo assim, pondera de que é preciso agir com respeito aos outros povos, nações, credos e cultos. Mas não fala que a América é somente mais um país, no meio de tantos outros. O americano talvez ainda continue a pensar que em verdade, ele é especial.

Falou em Deus e na Bíblia. Reafirmando discretamente que seu país é cristão. Mas países avançados devem ser laicos. Barack Obama pode ter uma religião específica, mas o Presidente dos Estados Unidos não pode. Deve acolher e trabalhar para todos os povos na mesma intensidade.

Bush deu a medida exata da insanidade ao declarar (em suas palavras) que só os cristãos têm razão. As outras religiões podem ser dizimadas já que não passam de animais ferozes. E foi o que fez, não sem o apoio de quase a totalidade da população de seu país. Os que ousavam falar contra, era taxados imediatamente de antipatrióticos.

Apesar disso, Obama disse, de qualquer forma, que a todos acolheria.

Na contramão de seu antecessor, falou da distribuição de renda e lembrou que foi somente assim que os Estados Unidos se tornaram tão grandes. O que é fato. Basta lembrar o que foi feito depois da crise de 29. O governo simplesmente distribuiu dinheiro porque sabia que assim a roda do capitalismo realmente giraria. Não é possível primeiro "aumentar o bolo" para depois dividí-lo. Pelo simples fato de que, quem pega o pedaço do bolo aumentado, não quer repartí-lo. Nós brasileiros conhecemos muito bem o dono dessa filosofia. Foi sob seu comando que nosso país ficou a dois passos do precipício.

Obama disse que não é possível prosperar quando se favorece quem já é próspero. Ele adotará, dizem os bem informados, algo muito similar ao bolsa-família.

Nossa direita irá espernear; Mirian Leitão e Ali Kamel morrerão do coração. A meca do capitalismo adotará uma arma keynesiana (para não dizer socialista) para não afundar.

O Presidente americano não foi leviano como seu antecessor. Acho que podemos perceber nele disposição ao diálogo, muito mais do que com Bush. Mas seu país está centrado na economia gerada pela guerra, pelo tráfico de armas e pela especulação bursátil. Grosso modo, tudo o que gerou a crise de hoje foi o que quintuplicou a riqueza americana desde os anos 80. Abandonaria ele tudo isso de uma hora para outra?

Não, ele não abandonará. Já disse isso. Que a transição deverá ser lenta.

E isso significará que imediatamente, pouca coisa mudará em sua política externa. Ora, não nos iludamos. Sua Secretária de Estado é Hillary Clinton. Seu marido bombardeou os Balcãs e atacou o Iraque, também. Ocorre que suas maiores peripécias, as mais comentadas pelo menos, se deram em sua cadeira ao lado de sua estagiária. Hillary pode ter feito um discurso conciliador tentando criar um sistema público de saúde anos atrás, mas não é diferente de seu marido no que se refere à economia de guerra. Nos Estados Unidos, muito pouca gente consegue pensar de modo distinto quando o assunto é esse.

Ora, o que farão os Estados Unidos? Deixarão de vender armas para os "rebeldes" da África? De doar dinheiro para a oposição na Venezuela, no Equador e na Bolívia?

Irá Barack Obama desativar os escritórios da CIA e conclamará Israel e a Inglaterra a fazerem o mesmo com seus similares?

Irá Obama continuar a comprar produtos vindos de fora para dar uma sobrevida aos trabalhadores do Terceiro Mundo ou será protecionista para preservar os empregos de seu país?

E sobre as energias renováveis, será que ele pretende comprar etanol do Brasil e com isso dar uma banana para as petroleiras que já ganharam mais dinheiro do que se poderia imprimir?

Obama precisará da conciliação mas ele a buscará como Kennedy o fez. Na frente das câmeras fará um discurso apaziguador, nos bastidores dará dinheiro para invadir a Baía dos Porcos.

Esse é o tipo de política que se pode esperar dele. Não por culpa de Barack Obama, mas por causa de toda uma engrenagem que mesmo ruída, insiste em se manter em pé.

Eu espero que ele tenha boa sorte. Vamos ver quanto tempo demorará para seus interesses começarem a bater de frente com os do resto do mundo.

Clique aqui para ver que os demotucanos brasileiros e os republicanos americanos são iguaizinhos.
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