quinta-feira, 30 de abril de 2009

DITADURA

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Quando eu era moleque nos anos 80 fui apresentado ao jornal Folha de São Paulo. Para mim era um mundo novo pois saia da leitura absolutamente oficializada dos jornais que circulavam em minha conservadora Curitiba da época (não que Curitiba tenha deixado de ser conservadora e provinciana). A Folha mostrava um novo mundo possível através de uma esquerda que se estruturava e apresentava propostas para o páis egresso dos anos de chumbo da ditadura de direita. Anos de chumbo, aliás, que a mesma Folha ajudou a sustentar, ressalte-se. Me lembro como se fosse ontem, do editorial da FSP comparando Fernando Collor à Mussolini. Na minha pouca idade, pensei que nem tudo estava perdido. Via um promissor futuro democrático para o Brasil. O tempo foi passando e eu deixando de gastar meu dinheirinho com o que se tornou um jornaleco de São Paulo. O futuro promissor da democracia começou a ter o gosto excludente de uma elite recém chegada ao poder, uns "novos ricos" alienados e com muito mais e comum com Collor do que gostaria de reconhecer.

A Folha redundou no que é hoje, a cópia fidedigna de uma imprensa decadente e mentirosa, absolutamente partidarizada e apegada aos ideais da extrema direita, tão nocivos à raça humana. Conversando com um ancião vindo da Alemanha anterior à Segunda Guerra, me revelou que os editoriais da Folha de hoje muito se assemelham aos "discretos" pensamentos propagados por Hitler em seu país natal. Lá, o carniceiro da europa foi comendo pelas beradas, me disse o senhor. Foi instalando na cabeça das pessoas a "indignação" por "tudo que está aí", e preparando o populacho para receber sem maiores questionamentos seu fantástico plano de conquista, xenofobia e racismo, que hoje, nós sabemos exatamente no que resultou.

Hoje lí no Vermelho um artigo de Emir Sader sobre a Folha. Bateu com tudo o que penso dela. Me deu tristeza por ver em quê se transformou nossa imprensa, totalmente ideologizada, sem o mero e mínimo resquício da necessária democracia e pluralismo que esperamos de um órgão que se entitula "essencial para entender o país".

A imprensa não deveria ir para a direita nem para a esquerda. Ela deveria, pois assim adora se autoproclamar, ser isenta. Se o político é corrpto, deveria ser escrachado em suas páginas. Se não é, deveria ser elogiado. No entanto, o que vemos é uma cantilena sem sal sobre os horrores promovidos pela esquerda e um imenso e inconpreensível vazio sobre os horrores da direita.

A esquerda, segundo a dialética da mídia brasileira, é sempre "incompetente" e "despreparada". A direita é sempre boa, honesta e competente. A direita faz como ninguém, os "necessários" "choques de gestão" aos quais nos acostumamos durante os anos 90 e nas décadas anteriores.

Mas é que a direita soube se reiventar, depois do golpe militar. Encampou, aliás, CONTINUOU encampando a mídia como fizera em seus reluzentes tempos de poder. Se agora ela nao precisava mais compelir ao adesismo pela força, começava a fazer pelo outro meio mais adequado aos novos anos democráticos. Os compelia pelo dinheiro.

As verbas dos governos de direita brotavam como bicas de água em montanhas geladas. E os donos da mída foram ficando assoberbados, ganhando dinheiro como nunca haviam experimentado. Além das gordas verbas publicitárias disponibilizadas pelos governos, sempre sobrava uma certa quantia das obras megalomaníacas que a imprensa ajudava a viabilizar. Afinal, sempre é necessário convencer o grande público que alguma coisa é útil. Fenomenal exemplo desta fabulosa cara-de-pau da mídia brasileira é a Ponte Estaiada construída em São Paulo, iniciada pela Prefeita Marta. Naquela época, segundo os jornais de então, a ponte era um desperdício fenomenal de dinheiro. Uma inutilidade grosseira. Bastou que Serra assumisse o cargo, e depois Kassab, e a ponte foi inaugurada sob festa e aplausos da mídia.

Detalhe que convém anexar à nossa verve: Octavio Frias Filho é o nome da ponte hoje em dia. Estranho, Frias não é o nome da família da Folha?

Foi isso que virou a mídia brasileira, um punhado de Bonners, Leitões, Sardenbergs, Frias, Civitas, Mainardis e Marinhos, loucos incansáveis para trazer para sí, para seu grupelho de mal intencionados, todo o poder que emana do Estado. Loucos para calar a voz da democracia e instalar o Estado mínimo. Mínimo, diga-se que sirva somente para seus interesses. Nunca para os do povo que os engorda com seus impostos.

A "grande" imprensa brasileira, essa que você vê ocupando quase 90% dos espaços das bancas de jornais, essa que você vê ocupando 100% da televisão de nosso país, é um lixo tóxico e perigoso. Ela mente. Não sabe o que é, não está acostumada e não concorda com a democracia. É ditatorial até os ossos.

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