segunda-feira, 16 de agosto de 2010

ESTADINHO QUER O SALVADOR DA PÁTRIA

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A política brasileira sempre foi clientelista e coronelista. Qualquer brasileiro sabe disso. Porém, por detrás de uma máscara progressista, alguns comentaristas políticos que criticam tal coronelismo se enraivecem. O perfil do eleitor está mudando e deixando aos poucos, o formato incongruente da mera venda do voto, para uma coisa mais madura, a aquisição de uma ideologia.

Ontem mesmo tive que ouvir de uma pessoa do meu convívio que o Bolsa Família é compra de voto. Claro que é. Se essa pessoa tivesse alguma vez na vida passado fome, talvez entendesse que uma criança não consegue ir à escola, e se nela estiver, não consegue fixar o aprendizado, se sua barriga estiver vazia. Os neurônios não funcionam. Uma mãe não consegue ter sossego se imaginar que seu filho pode não ter o que comer durante a próxima semana inteira.

Na visão da classe-média brasileira, dar um prato de comida a um pobre é suborno. Dar um milhão a um empresário é "gerar progresso". 

Ora, um prato de comida faz a necessidade básica do cidadão, que é a própria existência, ser substituída momentaneamente por outra coisa. Talvez o ânimo de aprender e a vontade de melhorar na vida e ser útil para a sociedade. Um milhão dado a um empresário, se bem aplicado, gera empregos, renda e um ciclo vicioso.

Ou seja, os dois têm o mesmo peso.

Mas na cabeça do leitor da Veja, a ideologia concreta da extema-direita não permite tal raciocínio. Aliás, não permite raciocínio algum. Insistem em pensar que é preciso "ensinar a pescar" e não "dar o peixe".

Claro que é. Mas o cérebro altamente desenvolvido da elite brasileira não entende que são necessários anos até uma criança que morre de fome, se tornar no mínimo adolescente, e poder ter um emprego. É preciso que ela tenha como continuar existindo até se tornar gente grande. Leva anos até se capacitar professores, até se construir tantas escolas quantas sejam necessárias, até gerar um círculo de progresso onde todos têm um pouco e por causa disso, a economia gira. 

Matemática pura.

Ao contrário dos pobres, parece que a classe-média fugiu da escola. Não sabe fazer uma conta tão básica. A elite nacional, que adora falar de boca cheia da Europa e dos Estados Unidos, não se dá ao trabalho de procurar no Google e tentar entender o que foi o New Deal e o Plano Marshall. Ambos foram, dentro de suas características locais, exatamente o que nossa classe-média tanto abomina. Ambos foram distribuição de renda, redirecionamento dos impostos para aqueles que mais precisam. Para que as classes baixas pudessem não ser tão baixas e entrar no mercado de consumo. Entrando, todos ganham. Inclusive a classe-média que tem sua empresinha. Uma hora ou outra, ela passa a vender mais.

A distribuição de renda salvou a Europa do pós-guerra e a América pós crise de 29, da destruição.

A distribuição de renda salvou os Estados Unidos de 2009 da falência. Salvou a economia japonesa e da Europa, do colapso total há apenas um ano.

Mas exigir que nosso elitista saiba disso, é pedir demais. Conhecimento dá trabalho. Mais fácil é criticar a tudo e a todos.

Então, eis que me deparo com (mais) esta pérola do estadinho. O articulista quer saber onde estão as "grandes idéias" da política brasileira?

Por que a classe-média sempre tegiversa?

Por que para alguns, é necessário reinventar a roda? Porque para ela, é difícil se tocar que isso é política estúpida já abandonada no Brasil. E no mundo todo. Ainda bem. Isso é coisa de quem busca sempre o salvador da pátria. É o desespero pelo aparecimento de alguém que acabe da noite pro dia com todos os problemas do mundo.

Isso existe? Não, claro que não. Mas a classe-média brasileira é sonhadora. Vive no mundinho cor-de-rosa dos shoppings das grandes cidades. Em verdade, ela não quer o salvador da pátria que acabe com os problemas do mundo, quer alguém que acabe com os "seus" problemas.

Por isso ela quer grandes idéias. As pequenas, na cabecinha da classe-média brasileira, não lhes tem utilidade. Acham que pessoas indo para a escola, tendo emprego e renda. Pessoas comendo e pensando em outras coisas que não seja assaltar alguém em um semáforo, não são úteis o suficiente. A classe-média (média de cérebro, diga-se) prefere a ilusão ao trabalho real, duradouro e demorado, da construção de um país.

Na mesma conversa de ontem, outra pessoa interveio falando que quando FHC discursava, falava de um Brasil que não existia. Só existia na cabecinha do populacho do Higienópolis. Era uma época onde nosso país era ridicularizado lá fora e os bancos internacionais (tipo FMI) vinham pra cá e faziam o que queriam. Era um tempo quando o chanceler tirava o sapato para servilmente entrar no aeroport americano, de cabeça baixa.

Jogando no lixo a soberania brasileira.

É esse o saudoso tempo de que tanto se ressente o articulista do estadinho. Ele quer Roque Santeiro de volta em carne e osso.

Devia saber que grandes idéias devem sim existir. Não temos que pensar pequeno. Mas cada coisa em seu tempo, senhores. Viver de sonhos não enche barriga e não leva pra frente país nenhum.


Clique aqui para assistir ao vídeo da Globonews que detona o Serra.
Clique aqui para ver que até o Roberto Jefferson falou que Bonner e Fátima ajudaram o tucano.
Clique aqui para ver mais um expediente distorcido do estadinho.
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Um comentário:

Guilherme disse...

Boa.