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Todo mundo sabe que em política, ninguém dá ponto sem nó. O que você faz, pode até ser importante, pode até ser necessário, mas sempre existe algo por trás. É assim que cansamos de ouvir sobre Lula por exemplo. Que ele só faz as coisas que tem que fazer porque é populista, quer ficar famoso.
Bem, então qual alternativa, não fazer o que é necessário?
A pessoa vai ficar famosa do mesmo jeito, pelo lado bom ou pelo lado ruim. FHC por exemplo ficou famoso por entregar o país de bandeja aos estrangeiros e não fazer um quarto do que poderia ter feito. Especialmente porque tinha um Congresso na mão, o mesmo que lhe aprovou a reeleição pela bagatela de 200 mil dólares por cabeça ( mensalão aliás, que a imprensa grande, nem comenta). Ou seja, FHC entrou para a história. Como um vendilhão da pátria. Não ganha uma eleição para vereador, se duvidar (exceto na Disneylândia do Higienópolis. Lá ele ganha a presidência, até).
Mas tudo isso, o tal ponto sem nó, nos remete à política intenacional e a essas palavras de Sarkozy.
Com a quebra da URSS em 1991 ficou um vácuo profundo no mundo e os EUA tomaram conta de quase todo ele. As antigas potências que foram aliadas na Segunda Guerra, ficaram sem lugar marcado no planeta. A Inglaterra foi sumindo graças aos políticos privatistas (inaugurados por Margareth Tatcher) que tiraram poder do estado e entregaram aos amigos. Que claro, não estavam nem aí para nada, exceto para ganhar dinheiro. Muito dinheiro. Alemanha e França também foram perdendo seu prestígio.
Os atores foram todos ficando secundários num filme escrito, dirigido e interpretado por figuras como Reagan, Bush pai, Clinton e mais recentemente, Bush filho.
Porém, por mais longo que seja o filme, uma hora ele termina. E Bush filho fez o favor para a humanidade de adiantar este fim. O enredo agora é outro e muita gente quer ser protagonista, não mero coadjuvante.
Sarkozy é um deles. Está toda hora na mídia falando coisas interessantes, coisas que realmente devem ser feitas, mas que no mundo real, de pelo menos 10 anos atrás, não seriam sequer ouvidas. Aliás, não seriam sequer faladas. Especialmente por um integrante da velha oligarquia.
Sarko quer colocar de novo a França no cenário mundial. E pra isso ele tem buscado aliados. Um deles é o Brasil, o único a fazer algum contraponto (por mínimo que seja) aos EUA nas Américas. Lula é um cara de bom senso e não tem os chiliques de Hugo Chávez. Lula preside um país rico que de repente acordou e se deu conta que não precisa vir em trigésimo nos créditos do filme. Pode vir em primeiro, segundo, quinto. E está buscando esse protagonismo.
Sarko tem grudado no Brasil e pelo menos a cada quinze dias tem uma boa conversa com Lula. Mas qual o motivo? Quem fica mais famoso, Sarko ou Lula?
Para o francês, claro, ele preferia que fosse ele mesmo. Mas em verdade, tanto faz. O novo mundo tem espaço pra muita gente nova. A França não é nova, é do Clube de Paris que não deixava ninguém sequer pisar no capacho da porta de entrada. Mas as configurações intenacionais hoje são outras. Foram obrigados a abrir as portas. Claro que não para todos. Abrem o mínimo possível para que o mundo não vire uma "grande festa socialista" onde todos têm direitos iguais. Eles estão chamando para entrar aqueles que podem contribuir com o retardamento do fim da oligarquia, nem que para isso precisem dar um bom naco de seus pertences.
Obama está fazendo o mesmo, mas pode se dar ao luxo de fazer isso de maneira mais lenta. Mas o desespero já bateu na porta da Inglaterra da França e da Alemanha. Suas economias estão saturadas, não há mais para quem vender, o mercado interno virou pó. E as colônias que antes eram deles, ou trocaram de patrão ou literalmente, desapareceram. Caso do Haiti em relação à França.
Os franceses largaram sua coloniazinha nas Américas ao Deus dará.. Sugaram o que puderam e foram embora Os EUA foram até lá, corromperam os políticos e transformaram no quintal de casa, onde fazem o jogo sujo do tráfico internacional de drogas, armas e montam a lavagem de dinheiro.
Agora Sarko viu uma grande oportunidade. A questão é estar no lugar certo na hora certa. Ele viu um país destruído que precisa de ajuda. Se oferecer a tal ajuda (aquilo que eles chamam de reconstrução e serão adequadamente remunerados para isso), poderá recuperar algum prestígio onde era área de influência exclusiva dos EUA. E os EUA pouco podem fazer, afinal, é sabido que Obama tem muito mais problemas dentro da própria casa para arrumar, do que fora. Não dá mais pra fazer como nos anos 80, onde imprimiam dinheiro e "exportavam" inflação para o resto do planeta, enquanto decuplicavam (virtualmente) a própria riqueza. A vida real está cobrando o preço da América. Sendo assim, ela precisa ter foco. Tendo foco, alguma coisa será deixada de lado.
Mas o naco que Sarko quer nas Américas pode até ser grande, mas ganhará algo bem menor. Sua influência não passará da América Central (e em seguida certamente, tentará expandir para a África). Ao sul do Equador, precisará dividir com o Brasil, que já cooptou a quase todos, exceto alguns poucos perdidos que ainda insistem em ficar sob a influência dos Estados Unidos.
De toda forma, o jogo está no tabuleiro. Sarko quer se propagar e ele está certo. O espaço está aí, ocupa quem tem competência.
Para o Brasil isso também será bom, porque terá um aliado forte, das elites antigas. Precisamos disso para o Conselho de Segurança e para uma cadeira "extra" na ONU que irá para um "certo brasileiro ilustre".
É uma troca. Todos precisam fazer um contraponto à China, que se não for devidamente colocada em seu lugar, acabará com o emprego no resto do planeta. Daí sim, perderemos todos, inclusive os EUA que se converteram numa economia de serviços e de tecnologia. Mas os serviços vão se pauperizando e a tecnologia até a Índia já está desenvolvendo.
Um cenário demais interessante virá para os próximos 3 ou 4 anos. Nossa mídia, claro, fará o possível para não mostrar a importância do Brasil, especialmente se Dilma estiver (e estará) no poder. Mas como a própria influência da grande imprensa está acabando, poderemos ver mais claramente esta boa briga que se desenrolará em um tatame bem pertinho de todos nós.
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