sábado, 6 de dezembro de 2008

EM CURITIBA TUDO É "VERDE"

.

Um amigo na tarde de hoje (sábado, 16h), percebendo minha notória irritação ao ficar parado inacreditáveis 40 minutos num congestionamento ocasionado por um motivo rigorosamente idiota, me perguntou porque eu achava que Curitiba estava desse jeito, "indo para o ralo", de acordo com suas palavras.

Curitiba tem uma boa administração em diversas áreas e isso é inegável, mas a cidade está na mão do mesmo grupo de pessoas há 4 décadas. O órgão que é responsável pelo planejamento urbano da cidade está velho e cheio de vícios. Parecem sentir um regozijo mórbido de submeter os cidadãos comuns a um desconforto diário que poderia senão ser totalmente evitado, certamente, minimizado em imensas proporções.

Eles pretedem, essas pessoas do tal órgão de "planejamento", empurrar goela abaixo as soluções que na cabeça deles, e pelo jeito só na deles, são consideradas as mais adequadas em se levando em conta a "necessidade" de a capital do Paraná se manter bonita, continuar sendo tida lá fora por "cidade de primeiro-mundo". O mais complicado é que tem muita gente que mora em Curitiba e ainda continua acreditando nesta baboseira criada no início dos anos 90 para viabilizar (com inquestionável sucesso) a campanha do então prefeito Jaime Lerner ao governo do Estado.

Curitiba não tem nada de Primeiro Mundo. É apenas uma cidade de um país em desenvolvimento um pouco melhor administrada que as outras. Mas aqui tem muita favela, roubo e esgoto a céu aberto como em todo lugar.

Pois bem, a matemática desse órgão de "planejamento" é incompreensível. Ao invés de enlarguecer algumas ruas, pelo menos as mais congetionadas, eles fazem justamente o contrário. Afunilam, constroem trevos com canteiros multicoloridos e lindos, mas colocam semáforos no meio. Claro, o trânsito pára.

Eu apenas esclareço que segundo os dados do Departamento de Trânsito estadual, Curitiba é a cidade com o maior número de carros por habitante de todo o Brasil. A Grande Curitiba conta hoje de acordo com algumas estatísticas desencontradas, com algo em torno de 2,1 milhões a 2,5 milhões de pessoas. Faça as contas para imaginar quantos carros existem rodando por aqui.

É uma gentarada e um monte de carros. Mas a estrutura da cidade não foi modificada em praticamente nada desde os anos 1970. O centro da cidade recebeu mais canteiros, algumas ruas mudaram de sentido e outras tiveram sua largura inexplicavelmente diminuída. Só isso. Não pense que temos aqui estacionamentos públicos subterrâneos como aqueles de Paris ou Buenos Aires. Nem tampouco imagine que contamos com aqueles prédios de estacionamento centrais que você encontra em diversas cidades dos Estados Unidos. Necas. Aqui, ou você pára em pequenos e abarrotados estacionamentos particulares ou deixa seu carro na rua. E carro estacionado na rua, claro, causa mais congestionamento porque deixa a pista consideravelmente mais estreita.

Comum demais é demorar 10 minutos para atravessar um único quarteirão em determinados bairros de Curitiba em certos horários. O problema está alí, visível e óbvio, no entanto, ninguém do tal órgão de "planejamento" parece notar.

A questão das vias estruturais é outra comédia. A chamada Linha Verde, que nada mais é do que o trecho urbano da antiga BR 116 que foi cedido ao município, causa euforia como projeto, mas lágrimas se você for o usuário. Nas regiões onde o trânsito de "elite" é mais presente, foram construídas diversas vias laterais e estão sendo recapeados bons trechos. Há saídas marginais como as das melhores freeways e autobahns do mundo e está tudo muito bonito. Mas o fluxo central fica estagnado, obviamente, em diversos semáforos que são inconstestavelmente, a menina dos olhos da cidade. Deve ser, suponho eu, o lugar com o maior número desses aparelhos per capita em toda a América Latina. Ora, quem conhece Curitiba sabe que aqui viadutos e trincherias são coisas raríssimas. O presidente do IPPUC, que é este órgão de "Planejamento" urbano ao qual eu tenho me referido já falou que se fosse hoje em dia, inclusive ele não construiria os poucos viadutos que existem. 

Mas canteiros e semáforos (alguns absurdamente inúteis espetados em ruas da periferia onde passam 3 carros por hora), não faltam.

Já os trechos menos elitizados da Linha Verde continuam esburacados, sem sinalização e sem iluminação noturna. Penso eu que não custe tão caro aos cofres municipais comprar algumas dezenas de lâmpadas para suprir ao menos a ausência de faixas refletivas pintadas no asfalto. E além de esburacadas, também continuam com duas pistas, conforme era originalmente a parte "chique" que agora a Prefeitura resolveu modernizar.

Conversei com dois amigos engenheiros e os dois foram taxativos. Teria sido milhões de reais mais barato erguer viadutos ou construir trincheiras nos pontos onde o trânsito se esganiça na Linha Verde, e tê-la deixado com a largura original da BR 116. Afinal, o congestionamento não existe porque só há duas pistas (em cada direção); ele existe porque tem um semáforo no meio para segurar o tráfego.

Ou seja, depois dos milhões de rais gastos na Linha Verde (falam em 160 milhões de dólares), o congestionamento continuará existindo, talvez em menor grau, é claro. Mas ele poderia ser definitivamente eliminado com opções não tão complicadas, e bem mais baratas.

E nem quero mencionar a ausência de placas de direção, e isso em toda a cidade, especialmente nos bairros onde há desvios em virtude de obras. Nesta tarde me deparei com uma dizendo "desvio". E só! Não apontava a direção para a qual era feito o desvio, nem dava noções básicas de localização como dizendo que o Centro é pra cá e tal bairro é pra lá. Nada. Apenas "desvio", daí você se vira tentando encontrar uma rua que te leve para o lugar onde você pretendia ir.

Como pode uma cidade de Primeiro Mundo não ter placas de direção? Como vão se virar os zilhões de turistas do planeta inteiro que viajam pra cá?

E lá se íam os minutos parado no congestionamento. Nada de o carro andar.

Quando finalmente chegamos ao ponto fulcral, notamos o motivo de tanta demora. Eram os ônibus de turismo, que por não terem lugar específico para estacionar, estavam parados nas ruas em frente ao Jardim Botânico, um dos pontos turísticos mais bonitos e visitados da cidade. Assim, o tráfego tinha que se adequar a somente uma pista magrinha. E sabe onde esta pista magrinha ía desembocar algumas centenas de metros adiante?

Em um semáforo, cara-pálida. Claro!

Me perguntei se o órgão de "planejamento" nunca viu que em frente ao Jardim Botânico não tem lugar para estacionar os ônibus. Assim, largan na rua, deixando o tráfego ainda pior.

Outro detalhe que convém perceber sobre a psicologia curitibana. Aqui tudo é "verde", mesmo que não seja como alguns acreditam, a cidade com o maior número de árvores do País. No bairro Rebouças, por exemplo, um dos mais centrais da cidade ( e veja, não me refiro a um bairro de periferia), o cheiro de esgoto está presente dioturnamente por causa dos rios mal canalizados localizados embaixo do asfalto.

Que cidade de Primeiro Mundo é esta?

.

Um comentário:

Renan disse...

Discordo do seu ponto de vista. Independentemente de o "slogan" de cidade de primeiro mundo ter sido usado para uma campanha política, é um slogan verdadeiro, mesmo eu não tendo ainda visitado Curitiba.

Se o trânsito está engarrafado por causa dos carros, é preciso diminuir o número de carros trafegando na cidade, valorizando o transporte coletivo. Fazer viaduto é concretar a cidade, tirar a beleza dela que é o verde.

A maioria da população que trabalha em Nova Iorque não mora em Nova Iorque, mora nas cidades que aqui chamamos de 'metropolitanas'.

Voltando ao começo, independentemente do slogan "cidade de primeiro mundo" ter sido usado em campanha política, é válido lutar para manter o slogan.

Ou não. Se você quer que sua cidade vire uma São Paulo, uma cidade de cimento, concreto e poluição, que alaga toda vez chove.